Tuesday, June 04, 2013

AO CONTRÁRIO DE QUÊ?

Chamam-lhe uma feira do emprego ao contrário e está convocada para a próxima sexta-feira no Estádio do Bessa, das 10 às 19 horas por um grupo de formandos do Curso de Secretariado que querem ter contacto direto com empresas que os possam empregar. Segundo os promotores, onze formandos do curso de secretariado do Sindicato dos Profissionais de Seguros, nesta feira o conceito tradicional é virado ao contrário sendo os candidatos a emprego  a convidar os empregadores. Enviaram convites a cerca de 1000 empresas.
 
Entrou o mercado do trabalho numa nova era?, pergunta-se aqui mas a resposta, ignorando eu a resposta de quem pergunta, parece-me óbvia. O mercado do trabalho reflecte em cada momento e em cada espaço económico o mercado de bens e serviços nele produzidos. Se os factores de competitividade, dos quais o trabalho é muito influente, determinam a deslocalização da produção entre espaços económicos, é inevitável que o mercado de trabalho reflita esses movimentos.
 
Por outro lado, a competitividade a nível global não está apenas a alterar dramaticamente os fluxos produtivos mas também a potenciar crescimentos de produtividade que, inevitavelmente, determinarão a redução do número global relativo de efectivos de trabalhadores necessários para a realização de produções crescentes de bens e serviços, sejam eles quis forem. Repito o que venho anotando quase desde o início deste bloco de notas: tendencialmente o trabalho tornar-se-á um bem escasso, invertendo-se as posições entre vendedor e comprador de oportunidade de trabalho.
 
Quando li a notícia desta feira ao contrário ocorreram-me algumas imagens. Desde logo, a mais imediata, as concentrações de jornaleiros alentejanos no século passado à espera que os capatazes aparecessem para os recrutar. Depois, a própria designação de feira não é menos chocante porque remete para as transacções realizadas nos cruzamentos dos caminhos onde os transacionáveis não eram pessoas mas animais.
 
Semânticas à parte, é imperioso que se reconheça que só há emprego num espaço económico se houver produção, só há produção se houver investimento, só há investimento se os factores de competitividade prevalecentes nesse espaço económico forem convidativos dos investidores. No mundo globalizado em que vivemos, os diferentes espaços económicos concorrem, afinal, entre si por trabalho. O sucesso de cada espaço económico neste mercado altamente competitivo depende sobretudo da capacidade dos seus intervenientes locais, empregadores e empregados, formarem equipas vencedoras.
 
A convocação de greves poderá ser um razoável mecanismo de escape da indignação popular contra medidas consideradas atentatórias dos direitos dos trabalhadores. Não se percebe, no entanto, é como poderão promover o investimento, a produção, a criação de emprego, num mundo globalmente competitivo. As feiras de emprego, ao contrário ou não, não o criam.

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