Sunday, June 23, 2013

DIVÓRCIO À VISTA

Dizia há dias o PR que o FMI deveria ser dispensado de participar na resolução dos problemas com que alguns países da União Europeia se encontram confrontados, porque existem entre os membros da UE compromissos mútuos cujo cumprimento deve ser resolvido exclusivamente entre eles.

Praticamente, ninguém comentou. E, no entanto, a questão é primordial num debate que se pretenda sério acerca do futuro da União Europeia. A intervenção do FMI na troica não foi imposta pelo FMI mas implicitamente solicitada pela Alemanha com o objectivo de servir de amortecedor na resolução de um conflito em que, sem o envolvimento do FMI, Merkel seria obrigada a assumir o papel de carrasco dos países membros caídos na ratoeira da dívida externa. Não conseguiu livrar-se da fama, e o relatório do FMI, ao assumir erros grosseiros nos resgates à Grécia, precipitou as dessintonias que há muito eram públicas entre os membros da troica.
 
O El País publica hoje um artigo - El largo adiós a la Troika - que relata com detalhe suficiente a evolução mais recente das fricções entre os troicos denunciadas pelo cruzamento de declarações progressivamente contundentes, erros flagrantes, resultados que vão de mau a pior e, em última instância, apontam para um divórcio à vista no horizonte ... "Morte à troica", resume mordaz um alto funcionário em Bruxelas perante o desenvolvimento dos programas em países como a Grécia e Chipre, abocanhados pela depressão, e em menor medida Portugal e Irlanda, que têm diante de si uma longa travessia do deserto. O FMI já sinalizou claramente a sua futura saída da troica. A Comissão conta os dias para que isso ocorra. Há condições mais que suficientes, se os governos o pretenderem, para que as instituições europeias tenham plena responsabilidade dos resgates, disse José Manuel Barroso".    
 
Hoje, é opinião praticamente unânime que a chamada do FMI para a troica nem ajudou a solução do imbróglio de algumas dívidas soberanas europeias, porque as receitas do FMI não são adequadas a um espaço económico com moeda única (e têm também fracassado em outras circunstâncias) nem reduziu a conflitualidade de interesses, compromissos e obrigações entre os membros fortes e os fragilizados da União Europeia, e, principalmente, da zona euro.  
 
Melhorarão as relações entre os europeus depois da saída do FMI, terminando as ameaças de desintegração da UE? Não por isso. As receitas do FMI agradaram a alemães e companhia do norte enquanto os resultados não demonstraram que fracassaram. Ao reconhecer o fiasco, o FMI deixou de poder desempenhar o papel que lhe estava atribuído. Saindo o FMI, e não sairá a curto prazo, nada de relevante, por esse motivo, se alterará na actual correlação de forças prevalecente na UE. O futuro da União Europeia, no entanto, ficará ainda mais dependente da decisão que os alemães tomarem quanto ao preço que estarão dispostos a pagar para evitarem que a UE se desintegre.   

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