Enquanto por cá os dois principais protagonistas políticos insistem no confronto a propósito de tudo e de nada, em Espanha, Rajoy e Rubalcaba, que, desde Maio do ano passado, não têm sido vistos juntos, trocam discretamente informações e discutem estratégias de ataque aos problemas mais ingentes de Espanha, a sempre latente ameaça da ETA, o posicionamento de Espanha relativamente à União Europeia e, muito principalmente, sobre a forma de persuadir a hegemonia alemã a travar as suas imposições de austeridade aniquiladora.
Em consequência da aproximação de Rajoy às propostas de Rubalcaba resultou esta semana o primeiro grande pacto de legislatura em matérias onde em Espanha nunca tinha havido grandes desencontros entre governo e oposição. Aliás, também em Portugal, até à ocorrência da explosão da crise, as relações com a União Europeia foram sempre regidas pela mesma pauta. A assinatura pelo trio do memorando de entendimento com a troica foi, no entanto, o último acto dessa actuação conjunta, em consequência da opção desastrada do primeiro-ministro, homologada pelo PR, de desvincular o Partido Socialista de participar na execução do programa que tinha negociado e sido o primeiro subscritor. Foi o segundo grande erro do PR, já tinha errado quando deu posse ao segundo governo minoritário de Sócrates. Cavaco Silva deve a sua impopularidade de hoje, para além da erosão de uma crise indominável, principalmente a estes dois consentimentos desastrados.
À absurda opção inicial do primeiro-ministro, e digo absurda porque só pode ter sido mobilizada por uma qualquer espécie de embriaguez de poder, prosseguiu o chefe do governo obsessivamente por um caminho de confronto com o partido que, afinal de contas, tinha sido o principal responsável pelo beco em que já nos encontrávamos em 2010. Lamentavelmente, nem a troica nem o PR exigiram a continuidade da vinculação formal do PS à execução do programa de ajuda externa, nem o governo envolveu, minimente sequer, o PS nas discussões de análise de avaliação da troica. As pseudo tentativas de consenso do actual primeiro-ministro não são mais que uma réplica da tentativa aparente de Sócrates quando, após ter sido incumbido de formar o seu segundo governo, convidou numa tarde apressada todos os partidos a integrarem, ou apoiarem, o executivo minoritário do PS.
Por outro lado, ao contrário de Rubalcaba, que vinha insistindo há largos meses num pacto alargado de regime em Espanha, o líder do PS tem-se notabilizado sobretudo pela vacuidade das suas propostas, pelo prosseguimento de uma estratégia, que o professor Marcelo lhe recomenda, de fazer de morto. E a quem tenha ainda a veleidade de recordar a premência de um consenso nacional acerca das posições a tomar relativamente à troica, à União Europeia, ao FMI, e a todos quantos nos submetemos, respondem os socialistas, comunistas, bloquistas, e demais istas que o tempo dos consensos já foi.
Voltará após as eleições que eles reclamam?
Alguma coisa mudará com novas eleições, sem dúvida, mas não mudará esta partidocracia feita exclusivamente de confrontos tendo como motivação única o poder de se instalar no poleiro.
Voltará após as eleições que eles reclamam?
Alguma coisa mudará com novas eleições, sem dúvida, mas não mudará esta partidocracia feita exclusivamente de confrontos tendo como motivação única o poder de se instalar no poleiro.
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