Wednesday, June 05, 2013

CALL CENTER

Se há hoje alguma unanimidade acerca do memorando de entendimento assinado pelo trio com a troica é a de que ele foi mal desenhado ou mal negociado, e que as conversações com a troica subsequentes às avaliações de cumprimento, todas positivas até agora, segundo informações publicadas, se regem por uma inflexibilidade formatada em cartilha semelhante aquelas que são distribuídas aos atendedores nos call centers. A troupe da troica, ao que parece, por mais crassos que sejam os erros resultantes de algumas políticas que impuseram e evidentes os desvios observados, não arreda pé do que está escrito na cartilha. Chegam, vêm, concluem, comparam e despacham sem considerar que o ponto de partida estava deslocado e algumas variáveis nunca estiveram nos sítios onde as previram.
 
Nestas condições, não há pachorra nem argumentos que possam demover o agente do call center a mudar de posição. Por um lado, porque não pode exorbitar das suas competências, isto é, proceder de modo diferente do que manda a cartilha, por outro, porque do estrito cumprimento das normas depende a prorrogação do seu posto de trabalho.
 
Só há uma saída, que exige muita persistência e habilidade de persuasão: conseguir o acesso à chefia do turno. Normalmente resulta: os chefes sentem-se mais chefes quando lhes é dada a oportunidade de mostrarem as suas capacidades.
 
O relatório do INE sobre as Contas Nacionais  confirma que a actividade económica continuou a contrair-se a uma cadência superior às previsões do governo, resumindo-se numa quebra de 4% do PIB. Segundo as últimas estimativas do OCDE a dívida pública aumentará em 2014 para 132,1% do PIB e a taxa de desemprego rondará os 20%. A impossibilidade de redução da dívida para níveis suportáveis não é ainda reconhecida pelo governo, que, no entanto, não apresenta uma matriz de medidas que sustentem a coerência e a credibilidade da persistência na sua actuação. Uma actuação decorrente em larga medida do memorando de entendimento que até o ministro das Finanças já considerou, com incompreensível atraso, ter sido mal negociado. Até quando espera o governo que a situação se degrade para reconhecer a impossibilidade que há muito se mete pelos olhos dentro? Revê-se o governo nos superavits históricos observados na balança de comércio externo, mas é impensável que não tenha feito as contas e concluído quanto são insuficientes os valores observados para refrear o cavalgar dos juros e da dívida.
 
Dito de outro modo: até quando espera o governo para bater à porta da senhora Merkel e dizer-lhe que, obviamente, não podemos pagar a dívida que carregamos às costas e que, a continuar a aumentar a carga, demonstra a mais elementar lei da física que a base acabará por colapsar sem remissão possível?
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Correl. - FMI vai reconhecer erros cometidos na ajuda à Grécia.

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