É impossível uma corrida aos bancos na Alemanha? Não é impossível.
Nenhum banco, mesmo um conjunto de bancos dispostos a conceder liquidez uns aos outros, está imune a uma corrida aos bancos se o banco central que os suporta não tiver a capacidade para tornar ilimitada a liquidez do sistema. A Reserva Federal Americana (Fed), o Banco de Inglaterra, o Banco do Japão, todos os bancos centrais podem, se as circunstâncias o exigirem, emitir a moeda necessária para eliminar a hipótese de uma corrida aos bancos. O Banco Central Europeu não possui essa capacidade, daí a possibilidade (embora remota em alguns países membros da zona euro) de poder ocorrer uma corrida aos bancos.
Uma corrida aos bancos pode ser, portanto, inteiramente racional. Mervyn King, governador do Banco de Inglaterra, disse uma vez que pode não ser racional o princípio de uma corrida aos bancos mas é racional participar numa. De acordo com este princípio é normal que os depositantes gregos e espanhóis levantem o seu dinheiro dos bancos. Se, além disso, há especulação acerca da saída Grécia da zona euro, então é racional que os gregos retirem o seu dinheiros do país. (aqui)
Recentemente, a Grécia, onde a probabilidade de saída do euro não se reduziu, já não é a hipótese mais preocupante para a continuidade da zona euro. A Itália e a Espanha, mas sobretudo a primeira, pela dimensão das suas economias e a intersecção dos seus sistemas bancários com os dos outros membros da zona, nomedamente, alemães, franceses e holandeses, podem desencadear um processo de desconfiança global na zona euro que atingirá inevitavelmente a Alemanha.
Talvez por isso, certamente por isso, suponho, Dona Merkel está tão interessada em angariar tempo para os bancos alemães para se imunizarem contra as falências que venham a ocorrer em membros da zona euro.
Se, por razões incontroláveis, a zona euro vier a desintegrar-se, a confiança na moeda única europeia, mesmo que subsista no norte da Europa, esboroar-se-á. Até que ponto? Ninguém sabe. Mas a dúvida subsiste:
Se amanhã houvesse uma corrida aos bancos na Alemanha, o que diria Dona Merkel ao senhor Draghi?
Recentemente, a Grécia, onde a probabilidade de saída do euro não se reduziu, já não é a hipótese mais preocupante para a continuidade da zona euro. A Itália e a Espanha, mas sobretudo a primeira, pela dimensão das suas economias e a intersecção dos seus sistemas bancários com os dos outros membros da zona, nomedamente, alemães, franceses e holandeses, podem desencadear um processo de desconfiança global na zona euro que atingirá inevitavelmente a Alemanha.
Talvez por isso, certamente por isso, suponho, Dona Merkel está tão interessada em angariar tempo para os bancos alemães para se imunizarem contra as falências que venham a ocorrer em membros da zona euro.
Se, por razões incontroláveis, a zona euro vier a desintegrar-se, a confiança na moeda única europeia, mesmo que subsista no norte da Europa, esboroar-se-á. Até que ponto? Ninguém sabe. Mas a dúvida subsiste:
Se amanhã houvesse uma corrida aos bancos na Alemanha, o que diria Dona Merkel ao senhor Draghi?
2 comments:
Caro Rui:
Mas porquê,na Alemanha?
E se fosse em Portugal? Não achas que não haveria uma intervenção do BCE?
Por que razão focas a atenção na Alemanha? Para dizeres que as regras são diferentes?
De qualquer forma, tens que admitir uma coisa: por vezes a quantidade altera a natureza. Com temperaturas inferiores a zero graus, a água torna-se sólida e com temperturas elevadas transforma-se em vapor.
Uma corrida aos Bancos em Chipre e em Portugal tem quantidade e natureza diferente; idem, na Grécia, versus Alemanha.
Caro António,
Obrigado pelo teu comentário.
Referi a Alemanha porque, como bem sabes, o BCE não tem mandato para actuar como emprestador de último recurso, contrariamente ao que se passa com a Fed ou o Banco de Inglaterra.
É verdade que o BCE tem estado a intervir na compra de dívidas soberanas mas essa intervenção não tem por detrás uma capacidade ilimitada capaz de dar inteira confiança aos investidores.
Aliás, no espaço de uma semana Draghi fez declarações animadoras seguidas logo de indicações restritivas, certamente por ter recebido indicações do Bundesbank.
Não é, portanto,em nada comparável a hipótese de uma corrida aos bancos em Portugal, Espanha, Itália, Grécia, ou na Alemanha.
Wolfgang Münchau escrevia há uns tempos no FT uma proposta de centralizar na zona euro a supervisão da banca e, consequentemente, a globalizar a garantia dos depósitos como a única forma de evitar uma corrida aos bancos na zona euro. A proposta foi depois citada por outros mas está em banho de maria.
E porquê?
Talvez porque os alemães estejam cada vez mais convencidos que o euro não lhes convém.
Num artigo publicado no Economist desta semana é colocada de forma muito clara a hipótese muito provável de Merkel estar a preparar o fim do euro.
Delírios do Economist? Penso que não.
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