Há pouco mais de um mês apontei neste bloco de notas que o maior buraco ia começar dentro de momentos. Mas houve alguma imprecisão na informação: na realidade os trabalhos de escavação tinham começado há já bastante tempo. O que se tornou mais nítido na altura em que escrevi aquela nota foi o eventual envolvimento do dinheiro dos contribuintes portugueses no financiamento do buraco.
Hoje, foi notícia, no meio de tantas notícias desgastantes, que (vd aqui ) o Estado garante uma emissão de obrigações subordinadas emitidas pelo BCP com taxa de juro de 12% acima da euribor, que servirão de colateral para o banco se financiar junto do BCE.
Um dia, quando forem avaliadas as dimensões do grande buraco, o mostrengo do BPN (que continua a mexer! e, cada vez que mexe, cresce) parecerá um buraquito ao pé deste buracão em formação. É o resultado do efeito "moral hazard" sem tirar nem pôr: grande de mais para cair, seremos (uns mais que outros, alguns mesmo nada) chamados a segurá-lo com todas as forças que nos restarem não vá a enormidade estatelar-se e esmagar-nos de vez. Porque aqueles que lhe minaram os alicerces há muito que se puseram ao fresco. Exceptua-se uma meia dúzia, entretida ainda a sacar o que pode.
A próxima etapa de escoramento para prosseguimento das escavações chama-se recapitalização.
6 comments:
Há cerca da divida e da poupança para pagar a divida, fica-se num autêntico limbo ao tentar perceber o que cada um de nós, o comum dos mortais, tem a haver com esta divida. A divida foi contraida para pagar os salários da função publica? A divida foi contraida para financiar a educação ou a saude da população que serve? Não me parece que isso soe alto no meu cerebro, pois os impostos resultantes da actividade económica normal sempre foram suficientes para isso. Ao contrário do que se houve o dinheiro não chega para estas actividades, o estado cresceu em demasia em numero de funcionarios, etc. Mas ninguém contabiliza em percentagem de gastos quanto foi utilizado em obras que não servem o bem comum, os negócios ruinosos dos diferentes governos quer em parcerias publico-privadas, quer em compra de material bélico, quer em auditorias e pareceres diversos pedidos a torto e a direito por dá cá aquela palha, etc, etc,etc...
Para quando um esclarecimento cabal da importância de cada um destes itens na contabilidade publica, para que cada um possa perceber a usa divida?
Porque cortar na despesa de bens essenciais como a saude, a educação, a assistência social muitas vezes de uma forma transversal se se mantém todas as outras despesas não essenciais?
Não me parece que se trata de falta de imaginação ou incapacidade intelectual ou tecnica para se ter estas opções. Elas são opções politicas conscientes inseridas numa linha de pensamento previamente elaborado. Não foram é escrutinadas pois não estou a ver ninguém ganhar eleições anunciando que o caminho da salvação é o empobrecimento da população...E se os sacrificios exigidos este ano eram os necessários para combater o déficite como é que aparece uma folga orçamental de 2 mil milhões? Estivemos perante um milagre da multiplicação dos impostos e não demos por ele? Estes acontecimentos são tudo menos inocentes. Se por via do acordo da troica somos obrigados quase diariamente a prescindir de direitos adquiridos, a prescindir do ordenado que nos é devido, porque não se pode rever as parcerias publico-privadas que nos conduzirão a mais divida ao longo das proximas decadas, para mais muito delas configuram casos de policia a necessitar investigação?
Caro (a) anónimo (a),
A dívida, a pública e a privada, todos ouvimos dizer, cresceu ao ponto que cresceu porque gastámos mais do que produzimos. Até aqui parece que estamos todos de acordo.
A questão levanta-se, e algumas das suas questões são muito pertinentes, quando se trata de saber quem gastou assim tanto e quem produziu assim tão pouco.
Porque, como refere, falam muito em despesas com saúde, educação, etc., mas ninguém nos diz quem se locupletou com o buraco do BPN, quem ficou multimilionário com o BCP, quem está a encher-se com as PPP, quanto se gastou e continua a gastar com o futebol não só nois estádios mas em financiamentos à compra de jogadores estrangeiros, etc., etc.,
Alguns dirão: esses financiamentos são de natureza privada, são os privados que os pagam. Pagam mas é uma treta! Quando os bancos, em consequência de actividades movidas pela ganância, começam a meter água, é chamada a pele da arraia-miúda para calafetar os barcos que se afundam.
A minha previsão (oxalá erre
totalmente) é que começou a afundar-se de forma irremediável o
que foi o maior barco comercial português. Quando o afundamento acontecer já estou a ver o banco de Portugal e a sua vasta equipa informarem os senhores contribuintes que não tinham dado por nada.
E os senhores juízes interminavelmente entretidos com todos estes casos escandalosos.
" Há cerca " ?
Não sabia que havia.
...«tem a haver com esta divida». Pois...deve ser uma questão de 'deve' e 'a ver'
...o que não ofusca o resto do arrazoado.
Caro Francisco,
Podemos almoçar na próxima semana?
Caro atento
"Acerca de" e o que temos vindo a repisar quase de uma maneira obsessiva,mas a "cerca" que a divida tem vindo a colocar nas nossas vidas ressalta como reforço linguistico para nao dizer um modus vivendi....
Post a Comment