Thursday, December 15, 2011

AS RAÍZES DO DESEMPREGO

Não só em Portugal.
E nem pode dizer-se, se é que há situações em que isso faça sentido, que com o mal dos outros podemos nós bem.  

O aumento do desemprego estrutural, e esta é a melhor medida da dimensão do mal que se apossou das sociedades ocidentais, tem causas que não podem ser elididas nem desvalorizadas. A globalização, ao exarcerbar a competitividade entre as nações, faz valer incontornavelmente os trunfos da produtividade: Ganha quem fizer mais barato ou melhor ou, preferivelmente, uma coisa e outra. Para que desta irmandade algo perversa não resulte a volta ao proteccionismo, com todo o seu cortejo de efeitos colaterais não menos perversos, incluindo um conflito bélico mundial, é fundamental que haja regras que garantam o comércio livre mas também a sustentação do crescimento da dignidade humana.

A economia portuguesa é um caso muito característico da dualidade para onde caminham as sociedades ocidentais, aquelas que até há bem pouco tempo incontestavelmente desfrutaram de um ascendente tecnológico que lhes permitia níveis de rendimento e bem estar social no ranking das nações; mais recentemente, esse posicionamento aparente foi sustentado pelo endividamento crescente que desaguou na actual crise. Portugal, contudo, não vai a caminho dessa dualidade porque, lamentavelmente, nunca conheceu outra situação. 

O Oriente, onde existe um enorme reservatório de capacidade humana para competir seja a que preço for, só na China existirão qualquer coisa como um milhar de milhões de candidatos a qualquer coisa para deixarem as suas aldeias do interior longínquo e trabalharem na indústria, é imbatível na concorrência em preço e começa a ser, em alguns casos, em inovação tecnlógica. Sem capacidade de negociação, no continente mais populoso do mundo, onde sob a capa de um comunismo militante se esconde um capitalismo de estado à redea solta, os trabalhadores chineses obrigarão aqueles com quem competem a regredir para condições que para eles representam um avanço mas que os seus competidores ocidentais sentem como uma queda no inferno.

Pode a CGT clamar, protestar, ameaçar até, e a UGT repetir, porque este governo, como qualquer outro, está a atentar contra os direitos dos trabalhadores consignados na Constituição, não lhes garantindo um direito fundamental - o direito ao trabalho, mas nada de alterará no jogo de concorrência pelo trabalho entre as nações enquanto os pressupostos da liberdade de comércio não prevenirem a concorrência sem regras que garantam o respeito pelo avanço global da dignidade humana. É flagrante que, a este respeito, o sindicalismo ocidental, pouco ou nada tem feito de relevante para despertar nos trabalhadores do outro lado do mundo o sentimento de reivindicação de condições sociais proporcionais ao crescimento da riquesa do país.

Mas o avanço global da dignidade humana, que passa, necessariamente, pela compatibilização da capacidade de trabalho globalmente disponível (que tende para infinito com os progressos tecnológicos) e a capacidade de consumo que é limitada tanto pela capacidade de fruição dos indivíduos como pela limitação dos recursos do planeta, tem de ser globalmente negociado, ainda que as perspectivas de entendimento não sejam as mais prometedoras se olharmos para o fiasco em que está a transformar-se o Protocolo de Kyoto.
Quando iniciei este bloco de notas, há seis anos, anotei isto aqui:
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"Outros garantem que a descoberta de novas tecnologias induz a criação de novos produtos e de novos serviços. O que é certo. Nenhuma tecnologia, porém, aumenta mais um minuto sequer a cada dia: temos todos 24 horas por dia para consumir, seja o que for. Podemos é desperdiçar ou destruir a uma cadência que 24 horas podem chegar e sobrar."
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Insisto: um dia quem quiser trabalhar tem de pagar.
Blague?
Estamos a caminho.

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