Saturday, December 03, 2011

QUEM SABE FAZER, FAZ

Há dias, ouvi na rádio uma conversa com produtores de azeite no concelho de Campo Maior. Queixavam-se que, sendo Portugal importador de azeite, a produção é inferior ao consumo, os preços não cobrem os custos e ninguém pode manter-se numa actividade suportando prejuízos por muito tempo. E porquê? Porque os produtores espanhóis, ali ao lado, com olivais muito mais extensos, têm custos de produção mais baixos.
Um dos produtores campomaiorenses, proprietário de um olival com nove hectares, dizia que, porque não obtinha rendimento que lhe possibilitasse adquirir fertilizantes, estava condenado a ver cair a produção de uma safra para a outra.

Não sei se a ministra Cristas está consciente de que a redução da nossa dependência alimentar do estrangeiro depende, em grande parte, da dimensão das explorações agrícolas e silvícolas, das empresas pecuárias e das pescas. As actividades de pequena escala no sector primário não conseguem ir além da economia de subsistência e não atraem nem capitais nem competências suficientes para algum dia serem competitivas.

O seu colega ministro da economia, pelos vistos está, a julgar pelo que escreveu aqui há cerca de seis meses (que comentei aqui)

"... o crescimento da produtividade tem mesmo de se tornar num dos imperativos nacionais...a competitividade das nossas exportações vai depender essencialmente da evolução da produtividade ... o crescimento da produtividade vai ser um dos principais determinantes dos nossos níveis de vida. Como fazê-lo? ... Basta olhar para a Espanha. É que se nós atingissemos os níveis de produtividade dos nossos vizinhos espanhóis seria meio caminho andado para conseguirmos alcançar ganhos de produtividade substanciais. Esperemos assim que o consigamos fazer nos próximos tempos."


Esperemos que sim. Mas o tempo voa e, da ministra Cristas, sabe-se que deu indicação para os seus funcionários não usarem gravata, e, do ministro Álvaro, que a TSU encalhou na doca, que a meia hora a mais é olhada como fait divers, que nas empresas de transportes públicos continua a incontrolada espiral de endividamento, que das renegociações das parcerias público privadas não há sinais alguns.

Há quem diga que tanto a Cristas como o Álvaro têm ministérios a mais às costas. Não creio que seja essa a razão da falta de produtividade dos dois. O que lhes falta é capacidade de fazer e força política que em ambos os casos se requeria para ultrapassar obstáculos reconhecidamente muito bicudos.
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Quem não sabe fazer, ensina. Álvaro, a esta hora, já se deve ter arrependido mil vezes por ter deixado Vancouver. Cristas, não sabemos se já está consciente do molho de bróculos em que se meteu.

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