Sunday, April 17, 2011

À ESPERA DE UM CORTE DE CABELO

Caro H.,

A opinião de Robert M Fishman seria merecedora de mais crédito se fosse menos alinhada: Ao afirmar que a política adoptada não é passível de críticas (Domestic politics are not to blame), Fishman colocou a sua isenção de parte.

Porque, Caro H., o que é que pretende Fishman com esta análise? Denunciar as agências de rating e o perigo que representam para os regimes democráticos? É uma bela intenção, que eu também subscrevo, que não leva a lado nenhum. Porque o sistema financeiro, que tu conheces muito melhor que eu, até porque nele tens feito praticamente toda a tua carreira, continuará a assobiar para o ar. O sistema não se regenera com opiniões didácticas. Está provado que é suficientemente resistente mesmo a um abalo de elevada intensidade. Por outro lado, ao optar por uma observação lisonjeira da nossa realidade, esquecendo-se das nossas debilidades estruturais, da forma tonta como convivemos desbragadamente com o euro, do nosso crescimento mais que débil, da política errada de investimentos sem retorno adequado, do direccionamento dos recursos para os sectores protegidos da concorrência, da embriaguez da economia na construção e obras públicas, na perspectiva vesga da banca em geral e do banco do Estado em particular, que se tem limitado a seguir na cauda do rebanho a calcar-lhe a caca deixada para trás, na anedótica situação da justiça, do analfabetismo que deveria envergonhar-nos, etc., etc., etc.

Mas contenhamos-nos, agora, apenas no título da crónica: Portugal:Um resgate desnecessário (Portugal’s Unnecessary Bailout).

Desnecessário, porquê?

Só seria desnecessário se pudéssemos evitá-lo recorrendo a uma alternativa menos gravosa e, já agora, menos vergonhosa. Havia alternativa? Aparte o fuzilamento das agências de rating, por exemplo? Podemos, e devemos, revoltar-nos contra as agências de rating mas isso não tirará de cima de nós a espada de Damocles.

Robert M. Fishman também não diz como, o que é pena.

Todos nós sabemos que há outra alternativa e que é apenas uma questão de tempo paraa ela ser posta em prática: o reescalonamento da dívida. É por demais evidente que a banca não quer sequer ouvir isso. Mas sabe que ela é, mais tarde ou mais cedo, inevitável.

Só paga quem pode, meu caro H. E nós sabemos que não vamos poder aguentar a carga que nos colocámos em cima. E os investidores, a banca, também sabem. É por isso que carregaram nos juros, à espera do hair cut.

Vai ser complicado, mesmo com as mensagens dos 47, e dos 77*, e dos faroleiros, e de muitos outros que acordaram tarde demais.

O título não condiz com o texto e o texto é-nos lisonjeiro demais. Quanto ao resto, subscrevo.

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*O 7 persegue-nos. 
Teixeira dos Santos afirmou que se as taxas de juro atingissem os 7%, seria de encarar o pedido de ajuda externa. Foi uma declaração desastrada. A partir daí estava feito o convite à valsa uma vez que o tango tinha dado o que tinha a dar. Depressa os juros galgaram os 7% e não pararam de crescer.  Não seria, todavia, a declaração mais desastrada de TS. A declaração mais desastrada observada no hemisfério Norte, segundo o insuspeito António Costa, seria feita pelo mesmo TS na sequência da aprovação do PEC 4 em Bruxelas antes deste ser conhecido em Lisboa. 
Passados poucos dias, já ninguém fala disso: as desastradas declarações de TS foram, entretanto, desastradamente submergidas por um conjunto de declarações de Passos Coelho & Companhia (ou da Companhia de Passos Coelho?).
Pior, é impossível.

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