Friday, April 08, 2011

SANTA BÁRBARA

Ouço na rádio que o ministro da Finanças, entrevistado em Budapeste, remete para o PR, também em Budapeste, mas no Grupo de Arraiolos, a incumbência de obter dos partidos o acordo para a negociação da ajuda externa com a UE. Têm sido, aliás, várias as vozes que, no PS, têm reclamado a intervenção de Cavaco Silva na gestão da crise, depois de a terem provocado. Até a constituição de um governo de iniciativa presidencial que tivesse evitado a convocação de eleições antecipadas já foi, a posteriori, admitida.

Desde há muito tempo tenho apontado neste caderno que, segundo o que mandam as regras do seu principal teorizador, em regime semi-presidencialista, quando o governo é minoritário, o PR deve assumir uma intervenção mais decisiva na condução dos negócios do país. A opinião geral, contudo, entre políticos, analistas e comentadores de bancada, tem sido sempre contrária: o PR preside (a quê, não se sabe bem), o Governo governa, quaisquer que sejam as circunstâncias. Do lado do PS e do Governo, mas também das Oposições, esta restrição das funções do PR a notário do regime foi insistentemente reafirmada. Cavaco Silva, apesar das expectativas contrárias de quem nele votou, acomodou-se bem à passividade das funções que, constitucionalmente, segundo a leitura mais comum do documento fundamental da República, lhe estão atribuídas.

Agora que a trovoada rebombeia forte, Cavaco Silva é convocado pelo ministro das Finanças a obter a assinatura dos partidos para as condições impostas a partir de Bruxelas. Continuará a presidir nem ele sabe a quê, a notificar e a lavrar a acta. Cada um dos subscritores fará da campanha eleitoral o palco para culpar o outros da sua assinatura no contrato de administração da massa falida. Os não subscritores continuarão a clamar por um governo de esquerda, de que nem eles sabem o que é nem como.

À noite, o PM prometia a uma plateia excitada o melhor dos mundos para depois das eleições. Com o FMI, evidentemente. Mas isso ele não disse, evidentemente. 

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