O Expresso de hoje publica um apelo de compromisso nacional subscrito por 47 personalidades, incluindo Eanes, Soares e Sampaio, cinco reitores, empresários, vultos da cultura, da ciência e da política.
Mais vale tarde que nunca, mas os quarenta e sete chegam atrasadíssimos.
Anotei dezenas de vezes neste caderno que para enfrentar a crise o Governo deveria ser maioritário e pluripartidário e que o PR, não se encontrando reunidas essas condições por iniciativa partidária, deveria ter sido muito mais interveniente e, sobretudo, não deveria ter dado posse ao actual Governo minoritário sem ter esgotado todas as possibilidades de contribuir para que o País fosse governado com maior consenso e firmeza.
Dezenas de vezes me responderam, os meus amigos e muitas pessoas com quem falei, que o PR não o fez porque não podia nem deveria fazer mais nada. Geralmente, estas respostas reflectiam as ideias que sobre o tema passavam nos media. Só muito recentemente mudaram as opiniões e se lembraram de Santa Bárbara.
Porque são pouco sagazes, pouco informados, pouco espertos? Nada disso. Uma parte, porque a ideologia lhes exigia o compromisso de fidelidade partidária, pelo menos pública, uma outra porque aguardava que o one man show se espalhasse, ainda outra porque os compromissos têm custos. O PR porque queria recandidatar-se e PR que não mexa é reeleito pela certa.
Agora, mas só agora, quando a confiança entre os principais artistas está em cacos, 47 personalidades se levantam da plateia e clamam: meninos, ponham-se de acordo naquilo que é fundamental para o País antes de começarem o espectáculo de luta livre. Não seria mais eficiente que as recomendações tivessem sido feitas nos bastidores?
Na abertura do congresso do seu partido, o PM discursou exaltadamente com promessas aos fiéis e acusações aos adversários, enchendo de certezas na sua liderança o peito de filiados e simpatizantes, regendo uma liturgia de infalibilidade dogmática. Na véspera, tinha feito o que já devia ter feito há muito nas reafirmara sempre que não faria, mais uma vez sem dar cavaco ao PR, que soube pela comunicação social - o pedido de ajuda externa. No dia seguinte, o ministro das finanças endossava para o PR a responsabilidade de coordenar a negociação daquilo que ele, PR, tivera conhecimento ao mesmo tempo que o cidadão comum.
Mais do que publicitarem um documento subscrito por 47, os 47 deveriam começar por falar com os artistas. A começar pelo secretário-geral do PS a quem deveriam fazer entender que, por mais que isso lhe doa no ego enorme, ele não é dono do país.
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