Era incontornável: Portugal não tinha nenhuma hipótese de se safar pelos seus próprios meios a partir do momento em que a dívida ultrapassou o ponto de não retorno, o limiar a partir do qual, se nenhum factor externo quebrar a tendência, o seu crescimento se torna imparável. Um crescimento que passa a auto potenciar-se com o crescimento constante das taxas de juro. Estes, os factos. As causas são múltiplas, os culpados diversos.
E é precisamente à volta das causas e dos culpados que se vão instalar os discursos partidários, mandando às urtigas os interesses do país. A demagogia vai jorrar sem contenção nem pudor, as mesmas acusações partirão de lados opostos, o descaramento dos mais responsáveis não terá limites para virar o bico ao prego.
As mais recentes sondagens de opinião, obtidas antes do conhecimento público do pedido de ajuda externa enviado ontem a Bruxelas, mas, seguramente, já pensado e preparado quando o PM reafiançava na entrevista que concedeu dois dias antes, que tudo faria para o evitar, mostram que o PS recupera a distância para o PSD, uma diferença que será de seis pontos percentuais.
Um intervalo tão estreito mais acicata as hostes em confronto para o extremar de posições reduzindo os argumentos da campanha à acusação recíproca dos culpados.
Sócrates, que reafirmou desde o primeiro momento a sua determinação para lutar pelos interesses do PS, entronca cada intervenção pública nas acusações ao PSD como responsável pelo desastre. Seria simplesmente irónico se muita gente não o levasse a sério. Pelos vistos, contudo, ainda convence um terço dos portugueses da sua determinação e capacidade para governar o país, que só não foi inteiramente bem sucedida ao longo destes últimos porque o PSD diabolicamente sabotou os seus esforços.
Diga-se em abono da verdade que o PSD tem, por uma inabilidade que compromete seriamente os seus crédito, aqui e ali, ajudado à fixação dessa ideia. Mas com Sócrates à frente de um novo governo minoritário teríamos um cenário pior do que aquele em que hoje nos movimentamos. E o discurso sempre atacante de Sócrates impede que outra solução seja admissível com ele a bordo.
No comments:
Post a Comment