Há uma semana a S&P colocou dívida da Islândia sob vigilância negativa depois de o presidente islandês ter tomado a decisão de referendar uma lei do Parlamento que aprovava o reembolso faseado dos depósitos feitos por estrangeiros no banco Icesave.
Martin Wolf, em artigo desta semana que transcrevi aqui não encontra suficiente razoabilidade para que esse reembolso seja assegurado pela Islândia e, consequentemente, pago pelos contribuintes islandeses.
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A economia islandesa colocou-se sustentadamente no topo do ranking mundial do índice de desenvolvimento humano (terceiro, em 2007, segundo os dados do mais recente relatório do PNUD e o 13º. mais elevado PIB/capita do mundo) até ao momento em que a crise financeira deflagrou e ardeu o sistema financeiro que sustentava em grande parte o sucesso económico e social dos finlandeses.
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Ainda que se percebam os argumentos de Martin Wolf de que os depositantes e investidores em bancos islandeses (são ingleses e holandeses os mais atingidos) deveriam saber com quem lidavam e os riscos que corriam, não pode ignorar-se que dos excessivos riscos assumidos pelos bancos resultaram vantagens para os depositantes e investidores (sob a forma de juros ou dividendos excepcionais) mas também para os islandeses, que, sendo muito poucos (cerca de 320 mil) viram os seus rendimentos, directa ou indirectamente, benificiados com as habilidades e, certamente também, algumas desonestidades dos seus banqueiros. Sobre a Islândia pesa um ónus que, só perante os investidores holandeses e ingleses, equivale a 40% do seu PIB. A quem compete pagar a conta? A Islândia não pode eximir-se ao pagamento porque tal facto colocá-la-ia fora do sistema. Mas também não será razoável que os credores possam exigir a totalidade dos seus créditos. O caminho, parece, não poder ser outro senão a negociação da dívida em moldes tais que a Islândia não venha a ser ostracizada nem forçadamente empobrecida.
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Mutatis mutandis, que encargos deveriam suportar os contribuintes portugueses na liquidação do BPN e do BPP? Nenhuns.
Porque os juros e dividendos excepcionais, enquanto duraram, foram embolsados pelos depositantes e investidores nesses bancos, há muito tempo sob desconfiança pública, a quem não coube, nem poderia caber, qualquer vantagem, não deveria ser imposta qualquer contribuição para os que confiaram em quem não deviam.
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3 comments:
Boa noite.
Há tempos, antes da "crise", um amigo dava-me como exemplo o excepcional caminho que a Islândia estava fazer.
Até trigo produziam!
Eu respondi-lhe que o melhor que os Islandeses faziam era pescar bacalhaus e outros peixes de água fria, engarrafar água, produzir energia a partir das fontes geotérmicas, emborracharem-se ao fim de semana e deixarem-se dessas tretas de produzir coisas que não eram precisas. Uma idiotice, aquilo do trigo. Outro idiota qualquer entendeu que deveriam abandonar os sectores tradicionais e fazerem uma Wall Street local que bastaria abanar para colher os frutos.
Seriam ricos do dia para a noite, só com as modernices. E as vigarices. Durou pouco.
Que isto de vigaristas não é exclusivo nosso, embora batamos os nossos concorrentes por larga vantagem.
Quem vai pagar aquilo são os mesmos de sempre, não
são todos os islandeses. Apenas os que nunca desistiram de produzir serão penalizados. Os outros, os "espertos" além de nada fazerem para aliviar a situação, ainda a vão piorar, mamando da teta de poucos.
Aqui é igual e vai piorar.
"Quem vai pagar aquilo são os mesmos de sempre, não
são todos os islandeses. Apenas os que nunca desistiram de produzir serão penalizados"
Numa população tão reduzida o impacto dos resultados financeiros deve ter sido generalizado. Evidentemente, mais para uns que para outros.
O índice de desenvolvimento humano para além do PIB/capita (a Islândia estava em 13º lugar em 2007) conta também com o nível de educação e a esperança de vida à nascença. Tudo conjugado, os islandeses colocavam-se em 3º. lugar no ranking do IDH. Uma situação completamente diferente do acontece com a Arábia Saudita e outros países grandes produtores de petróleo, por exemplo,aliastu.blogspot.com onde o PIB é elevado mas o IDH é baixo.
"O índice de desenvolvimento humano para além do PIB/capita (a Islândia estava em 13º lugar em 2007) conta também com o nível de educação e a esperança de vida à nascença. Tudo conjugado, os islandeses colocavam-se em 3º. lugar no ranking do IDH. Uma situação completamente diferente do acontece com a Arábia Saudita e outros países grandes produtores de petróleo, por exemplo,aliastu.blogspot.com onde o PIB é elevado mas o IDH é baixo."
O que é que isto interessa a quem vai pagar aquilo tudo?
Os únicos que trabalham são os únicos que vão pagar a quem nunca nada fez a não ser gozar os rendimentos da economia moderna. Os tradicionais é que estão e vão continuar a pagar.
O resto...
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