E se a Volkswagen fosse portuguesa? Faz sentido esta pergunta, a propósito do confronto entre a administração da empresa e os sindicatos sobre a remuneração do trabalho aos Sábados?
A pergunta pode subentender várias questões e, nomeadamente, a posição que os partidos políticos assumiriam se a empresa pertencesse maioritariamente a empresários portugueses. Mas esse é, do meu ponto de vista, o aspecto menos relevante que a pergunta pode conter.
Só se deslocalizam, ou ameaçam deslocalizar-se, as empresas produtoras de bens exportáveis que encontram alternativas mais competitivas para localizar as suas operações.
Nunca se deslocalizarão a PT, a EDP, a Vodafone, a Optimus, a Petrogal, o BCP, a CGD, o BES, o BPI, e todas quantas sustentam as suas actividades junto dos clientes portugueses.*
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É muito evidente que se, por mera hipótese teórica, os capitais próprios da Volkswagen fossem detidos maioritariamente por portugueses a pressão dos sindicatos seria redobrada, o aproveitamento político partidário mais demagógico, as alternativas de deslocalização mais desvalorizadas, a opinião pública mais motivada para a censura dos culpados. Mas não se alterariam os pressupostos que estão na origem de uma eventual deslocalização das operações da fábrica de Palmela para outra parte do mundo. Dito de outro modo, se existissem imposições políticas que amarrassem as operações a Palmela e impedissem a sua deslocalização, o mais provável seria o encerramento das suas operações a prazo. Partindo do princípio que ninguém deslocaliza pelo mórbido interesse de deslocalizar.
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Um aspecto mais relevante da questão prende-se, do meu ponto de vista, com o debate à volta do interesse nacional dos centros de decisão de empresas operando em Portugal. Mas, também neste caso, há uma diferença capital entre empresas que suportam as suas actividades, total ou maioritariamente junto dos clientes portugueses, daquelas que aqui operam porque os factores de produção convêm às suas operações. No primeiro caso, os centros de decisão nacionais privilegiarão o emprego de competências nacionais e, nesse sentido, são preferíveis, do ponto de vista do interesse dos portugueses. No segundo caso, é irrelevante porque, por razões óbvias, o emprego que essas empresas podem oferecer é aquele que encontre competências locais que o satisfaçam ou esperam poder satisfazer. De outro modo não se teriam deslocalizado para cá.
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Se Detroit perde para Shangai que possibilidades tem Palmela de se manter no campeonato?
Poucas. E quanto mais esquecer isto pior.
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Há um terceiro grupo de empresas: a das que não se deslocalizam (ou se localizam) porque utilizam as matérias-primas do território. Foi assim no passado com a indústria mineira; é hoje, por exemplo, com a indústria de celulose e papel. Como dependem do mercado, prosperam ou sustentam-se enquanto forem competitivas e encerram quando deixam de o ser, deslocalizando-se as opções de investimento para outras paragens atractivas. Nestes casos, os centros de decisão, nacionais ou estrangeiros, tendem a empregar as competências locais disponíveis não sendo crítica para os interesses dos portugueses a localização dos centros de decisão.
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Ouvi esta manhã (25/5) na rádio que a cabeça de cartaz do PCP vai estar hoje na Autoeuropa. A presença desta candidata a eurodeputado, ou de qualquer outro, não ajudará em nada ao encontro de compromissos entre as partes directamente interessadas e só pode prejudicá-lo.
Há dias, num arroubo serôdio e requentado, clamava um militante que, contra a globalização e as deslocalizações, "trabalhadores de todo o mundo uni-vos uns aos outros". Não esclareceu, contudo se, no mundo dele, cabem a China e a Índia, por exemplo.
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* Este não é senão um efeito das causas que privilegiam os sectores não transaccionáveis e penalizam os transaccionáveis. A Autoeuropa, por pertencer aos segundos, é um exemplo paradigmático da insustentável continuidade do caminho que a economia portuguesa anda a trilhar desde há alguns anos.
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