Tuesday, May 12, 2009

TRABALHO MÍNIMO DE REINSERÇÃO

Porque é que há tumultos na Bela Vista, em Setúbal?

Por muitas razões e também por falta de emprego. Os tumultos das periferias urbanas sustentam-se frequentemente, em grande parte, da ausência de oportunidades de trabalho. Com o alastrar da crise as convulsões sociais serão imparáveis se não forem delimitadas à partida. E atrás delas gerar-se-ão movimentos racistas e xenófobos que não separarão os culpados dos inocentes.

Há quem vislumbre indícios de inflexão da tendência na crise global já no terceiro trimestre deste ano, há quem seja menos optimista e preveja que ela se prolongará durante o próximo ano.
A nossa crise será bastante mais prolongada.

O Bairro da Bela Vista nunca foi um bairro tranquilo, e não passará a sê-lo apenas à custa de mais polícia. A crise do Bairro da Bela Vista, tal qual a crise nacional, não é passageira e já vem detrás, de antes da crise global. Não acabará, portanto, quando esta acabar. Quanto muito, abrandará.
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Para além da intervenção da polícia e dos tribunais, é forçoso pôr aquela gente a trabalhar oferecendo-lhes empregos de serviço público. A região pode, e deve, ser mais limpa do que é. Há ruas para limpar, pardieiros que deveriam ser compulsivamente desmantelados, áreas para ajardinar, jardins para cuidar, matas para desmatar, grafitis para desaparecer. Se muita gente recebe o rendimento nacional de inserção porque não se lhes pede um trabalho mínimo que efectivamente os insira. Ninguém se reinsere moinando. A falta de ocupação é sempre fonte de maus vícios.
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Porque é que ninguém fala disto?
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Informação adicional

2 comments:

António said...

Pedindo licença do autor,

OS BANDOS DOMINAM NOS BAIRROS SOCIAIS

Os partidos de esquerda desculpam sistematicamente a criminalidade com o a pobreza e o desemprego. Parece terem receio de uma atitude mais enérgica na luta contra o crime. Será que ficaram traumatizados desde os tempos do fascismo? Esta postura está a desorientar o seu próprio eleitorado natural: os mais pobres que são também os mais desprotegidos face à criminalidade. Assim, os partidos de esquerda têm muita responsabilidade relativamente ao crescimento da extrema direita que tem um discurso bem mais sensato sobre o combate crime. Barack Obama – que se poderá considerar de esquerda – prometeu ser implacável no combate ao crime e defender ao mesmo tempo os mais desfavorecidos. Não me parece que isso seja incompatível.

Todos os dias vemos fechar Empresas jogando muita gente no desemprego e na pobreza. Frequentemente, ficam muitos meses de salários por pagar, levando essas pessoas a uma situação de desespero. Se fosse esse o motivo dos desacatos que se têm visto nos bairros sociais, então eles aconteceriam preferencialmente nas manifestações junto aos antigos locais de trabalho, onde se aglomeram muitas pessoas na mesma situação.
Não! o que se viu no Bairro da Bela Vista foi a homenagem a um criminoso abatido em flagrante pela polícia, numa atitude de desafio à própria polícia como que para testar a sua capacidade de reacção e para uma demonstração de força no bairro.

Há 50 anos a pobreza em Portugal não era menor que a de hoje e a criminalidade violenta era praticamente inexistente. Se mais pobreza implicasse mais criminalidade, então não teria sido assim. As estatísticas nem reflectem a nossa realidade porque muitas vítimas já nem se queixam porque sabem que os criminosos são rapidamente postos em liberdade, mesmo quando são capturados e depois ficam sujeitos a represálias. Mela mesma razão, vítimas e testemunhas escondem a face quando são entrevistadas pela televisão.

Já há algum tempo um Mayor de Nova Iorque decidiu que não se deveria menosprezar a pequena criminalidade nem os pequenos delitos, porque a sensação de impunidade se instala nos jovens delinquentes, estes vão facilmente progredindo para infracções cada vez mais graves até que a situação se torna incontrolável. Implementou então a célebre "Tolerância Zero" que, como se sabe, deu óptimos resultados, reduzindo num só ano a criminalidade em Nova Iorque em cerca de metade.

A actual política portuguesa de manter na rua os criminosos, mesmo depois de várias reincidências, faz (como dizia o Mayor ) crescer a sensação de impunidade: o criminoso continua com as suas actividades criminais, vai subindo o nível dos seus delitos e serve de exemplo para que outros delinquentes mais jovens sigam o mesmo caminho.

Mas existem muitas pessoas trabalhadoras e humildes nos bairros sociais que não levantam problemas e que só desejam que os deixem viver em paz, o que não acontece, porque estão reféns dos bandos de criminosos que dominam nesses bairros. Não se pode contar com essas pessoas para testemunharem qualquer acto criminoso a que assistam porque têm medo, medo de represálias porque não se sentem convenientemente protegidas pela polícia que também não pode estar sempre presente. Lembra as favelas brasileiras...só que no Brasil polícia e militares juntam esforços para combater o domínio dos bandos nas favelas e tem havido baixas parte a parte mas a polícia começa a chegar onde antes não se aventurava. Por cá, enquanto o crime cresce e toma posições de domínio, a polícia, apesar de vontade, nada pode fazer porque lhe falta a autoridade. Entretanto, Governo, Partidos, Bispos e outras organizações não compreendem o que se está a passar e fazem conjecturas absurdas sobre o motivo dos desacatos que é por demais evidente. Será que temos que cair no fundo?

Ah! esquecia-me de uma coisa: espero que os indivíduos filmados a fazer "cavalinho" com as motos sejam punidos pelo menos por CONDUÇÃO PERIGOSA. É imoral multar o pacato cidadão apenas porque ultrapassou 50 Km/hora e deixar impunes estes exemplos exibicionistas...

A propósito: "bófia", "bufos", etc... são termos usados pelos marginais, que os restantes cidadão não usam. A não ser que se identifique com os primeiros não deve usar esses termos; Quanto ao tratamento por "tu" é preciso observar o contexto para o poder criticar.

Zé da Burra o Alentejano

Rui Fonseca said...

"Barack Obama – que se poderá considerar de esquerda – prometeu ser implacável no combate ao crime e defender ao mesmo tempo os mais desfavorecidos. Não me parece que isso seja incompatível."

A quem ainda não leu "Dreams from my father" de Barak Obama recomendo vivamente que o leia.

O trabalho que ele fez em bairros problemáticos de Chicago foi a base de lançamento da sua carreira política.