As sondagens, divulgadas ontem, acerca das intenções de voto para as "europeias" de 7 de Junho, para além de conterem algumas surpresas ou semi-surpresas (a reduzida distância de 3 pp entre PS e PSD, a subida do BE ao terceiro lugar, a uma distância de 3pp do PCP, a continuação de perda de peso relativo do CDS, que não vai além dos 2%) vieram confirmar aquilo que o PR já deveria saber quando, durante o discurso de 25 Abril, manifestou preocupação com a governabilidade do país e apontou para a inevitabilidade dos partidos se entenderem acerca do rumo a tomar e safarem o barco de afundamento.
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Nos últimos dias, os puristas do costume e os delegados do governo vieram repetir que a democracia é combate de opiniões, o consenso é coisa de ditaduras. A sondagem da Universidade Católica, ainda que resultante de inquéritos à procissão no adro, parece apontar para cenários que vêm sendo perspectivados há muito tempo: O PS continuará a ser o partido mais votado mas perderá a maioria absoluta nas legislativas. Se o PR marcar as legislativas para o mesmo dia que o Governo marcar as municipais (o Governo marca primeiro) o resultado final, apesar do estado de catalepsia do PSD, poderá ser renhido. Não é provável que Manuela Ferreira Leite seja o próximo PM, mas não é altamente improvável.
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De qualquer modo, a questão não se altera, o cabeça de cartaz é que pode ser um ou outro. Sem maioria absoluta e com duas crises às costas, o partido mais votado nas próximas legislativas se for suficientemente casmurro para enjeitar consensos e negociar coligações alargadas, insistindo governar ao sabor de acordos parlamentares pontuais tipo queijo limiano, espatifará o resto da embarcação contra os rochedos. Que deve fazer, então, o PR? Depende do estado em que se encontrar a embarcação, mas em última instância seguirá o caminho inevitável de um governo de iniciativa presidencial que poderá induzir a alteração constitucional do regime semiparlamentar actual. Se o parlamento chumbar a iniciativa presidencial não haverá alternativa senão a convocação de outras eleições. Nestes casos, a experiência demonstra, que os eleitores penalizam os recalcitrantes.
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A 24 de Dezembro de 2005 escrevi isto, aqui neste meu caderno de apontamentos. Nessa altura, poucos previam a emergência da crise global que veio tornar ainda mais aguda a crise conjuntural interna. Depois de reler o que escrevi há quase três anos e meio concluo que, lamentavelmente, não tenho que rectificar nada.
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