Fernando Ulrich é um banqueiro comportalmente heterodoxo: frontal e desalinhado. As suas posições, tanto relativamente ao poder político como aos seus pares, não se caracterizam, frequentemente, pela sobriedade da linguagem e pelo jogo de sombras. Uma tal atitude pressupõe, contudo, que ela se respalde na coerência de posições sob pena de não passar de verborreia balofa. Essa coerência tem acompanhado o discurso do banqueiro que iniciou as suas passadas na política, e lhe deixaram marcas, e, por isso, são surpreendentes as suas declarações desbocadas de ontem.
Recordo-me que, há uns três anos atrás, Fernando Ulrich declarava ao Diário Económico, salvo erro, que a recuperação da economia portuguesa passava pela adopção de medidas que relançassem a sua competitividade, destacando entre essas medidas a redução real dos salários de forma a repor o equilíbrio perdido durante o período em que os aumentos salariais não tinham decorrido de aumentos de produtividade que os justificasssem. Perfilhava, portanto, dos alertas e dos remédios receitados por Olivier Blanchard, mais recentemente retomados por Silva Lopes e Vitor Bento.
Surpreende-nos, portanto, não tanto a linguagem desbragada mas a incoerência manifesta de Ulrich, tendo em consideração as suas posições anteriores, de reacção trauliteira às timoratas declarações do Ministro das Finanças no sentido da moderação dos salários e toda a panóplia de mordomias dos gestores das grandes empresas em tempos de crise.
Aliás, Ulrich viria a complementar o seu desatino reclamando do Governo o aumento dos impostos como forma de solução dos compromissos do Estado que não possam ser satisfeitos pela arrecadação, em queda, da receita orçamentada.
Lá chegaremos, Ulrich. Alguém terá de pagar a conta. Eles, Ulrich e os seus pares, é que pelos vistos não estarão dispostos a dar qualquer coisa para a caixa.
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Fernando Ulrich: defender limites aos salários dos gestores é "politiquice barata e reles"...
"Defender limites aos salários dos gestores é "politiquice barata e reles", disse hoje o presidente executivo do banco BPI, no mesmo dia em que o ministro das Finanças português apelou à moderação nos salários dos altos quadros das empresas."Falar dos salário dos gestores não tem nenhum custo político", disse Fernando Ulrich na conferência "Portugal em Exame", defendendo que o Governo deveria discutir questões como subidas de impostos, caso as considere necessárias. Ulrich considerou, perante uma plateia onde estavam Francisco Balsemão e Belmiro de Azevedo, que o governo evita subir os impostos porque, "isso sim, teria custos políticos". Discutir os limites dos salários dos gestores é "politiquice barata e reles", considerou o presidente executivo do banco BPI, sustentando que "o governo não tem nada a ver com isso". O ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, disse hoje em Bruxelas estar "preocupado" com a dimensão "desproporcionada" dos salários dos gestores em relação ao de outros trabalhadores, pedindo "moderação" e "transparência". ..."
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