Uma das principais causas da derrocada financeira que abalou profundamente a economia mundial até um nível de que ainda não se conhecem os limites foi, sem dúvida, a falta de transparência no comércio de produtos financeiros que permitiu a venda à escala planetária de gato por lebre. Se o cliente mais desconfiado perguntava se o animal à venda, exibido na montra e publicidado por todo o lado, era mesmo lebre, jurava o vendedor que era lebre genuína. Ficou-se a saber mais tarde que era gato e, pior que isso, tóxico.
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Regaram-se as pilhas infindas de tóxicos com milhões de dólares, euros, yenes, yuans, e outras coisas parecidas mas menos conhecidas, e reconheceu-se que o sistema deveria ser refundido para não apanhar uma nova moléstia tão depressa.
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Mudou alguma coisa? Não mudou nada e receio que não vá mudar. Afinal de contas os fundos, uma invenção que prometia, e pelos vistos continua a prometer, "diversificar o risco" do pequeno investidor (o grande investidor cria os seus fundos próprios) continuam opacos e impenetráveis como dantes. Pergunte-se ao vendedor o que está dentro da mercadoria que o incumbiram de vender e constatar-se-á que o homem (ou a mulher) estão tão mal informados como estavam antes do rebentamento generalizado do escândalo. Aliás, foi esse desconhecimento quase absoluto que consentiu a dispersão da comercialização de produtos tóxicos em todo o mundo confiando cegamente, propositadamente ou não, os agentes de venda nos produtores e fornecedores, e endossando os riscos da sua ignorância para os compradores finais.
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Há a "ficha técnica", pois há. Mas quem consegue penetrar por detrás daquele conjunto propositadamente complexo em mutação permanente? Ninguém. Quem compra, compra acalentado pela mesma fé com que joga no casino ou, mais prosaicamente, no totoloto ou no euromilhões.
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É lebre? É lebre. Está outra vez a vender-se bem.
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