Saturday, December 06, 2008

Oh NO! We did it again!

Diz a nossa Amiga A.,

Já há uns 2 ou 3 anos que os sinais de que isto ia acabar mal estavam aí.

Deslocação de emprego para a Ásia.
Era (e continua a ser) raro o dia em que não se ouvia ou lia mais uma fabrica que fechou, mais uma empresa que resolveu abrir uma unidade de produção na China ou na India e nais umas centenas de pessoas desempregadas nos EUA e Europa (nos países ditos desenvolvidos).
E não é só o pessoal menos qualificado, são engenheiros, informáticos, técnicos, médicos e até advogados.A própria Microsoft afirmou recentemente que os engenheiros chineses formados em universidades chinesas estão mais bem preparados que os engenheiros chineses que tiveram formação na Europa ou EUA e são esses que têem emprego nos 6 centros que possui na China.
Há 2 ou 3 anos, pelo menos, que noticias sobre o endividamento excessivo e diminuição da poupança nos chegavam dos EUA e Europa.As populações compravam carros, casas, viagens, LCDs, comida com os 'cartõezinhos' fornecidos pelos bancos e pediam empréstimos pessoais para os pagar e ao mesmo tempo os níveis de salarios eram cada vez mais baixo, a precariedade do emprego era cada vez mais a norma e o desemprego continuava a subir.
Entretanto, no meio disto, o sector financeiro anunciava lucros fabulosos (com prémios milionários para os gestores) e fomentava o endividamento todos os dias de particulares (para manter o consumo) e de empresas para continuarem a fazer negócios da China.
Esperavam o quê?Os famosos 'crescimentos económicos' da última década traduziram-se em mais alguns bilionários, países falidos, empresas falidas/fechadas e populações, cada vez mais, à beira da miséria.Tambem acho piada quando querem fazer comparações, primeiro com a crise de 80, depois com a crise 29/30 para finalmente admitirem que esta é muito pior.Já que gostam tanto de números tomem atenção à diferença de números de população envolvida. Há outra coisa que me faz rir, é a preocupação com o proteccionismo que pode ser adoptado pelos Estadose, até, com a possibilidade do levantamento de barreiras alfandegárias.
Olhem bem para as etiquetas do compram. Made in China, Made in India, Made in Brasil e os nossos países fazem o quê?Os nossos países importam (por enquanto) e começam a não ter a quem vender.
Levantem barreiras alfandegárias e a China volta-se para o mercado interno (coisa já decidida no último comgresso do partido/governo Chinês) e começa a cobrar as dividas aos países devedores.
Proteccionismo? A que empresas a que sectores de produção?Aos que estão (alguns já engolidos) na China e na India?
Costuma-se dizer que a curiosidade matou o gato, neste caso, a ganância vai matar o homem.

24 comments:

Rui Fonseca said...

Minha Cara Amiga,

Até agora, não tenho visto defendida a tese que a minha cara Amiga defende: a globalização está na origem desta crise que promoveu a China e despromoveu o Ocidente.

Também não tenho visto quem (poíticos, entenda-se) defenda o levantamento de barreiras alfandegárias como forma de resolver, ou ajudar a resolver, a crise.

Estarão todos errados?

A China tornou-se um grande produtos mas também um grande importador. Ainda recentemente, todo o mundo se apoquentava ou rejubilava, consoante os casos, com os crescimentos dos consumos chineses e indianos.

Por que é que foram reabertas as minas de Aljustrel? Porque subiu o consumo do zinco e do cobre impulsionado pelos chineses.

Por que é que estão agora em dificuldades? Porque os chineses, em consequência da ctise, que também os atinge, estão a consumir menos.

Não se deduza daqui que advogo um mundo continuadamente a crescer através do consumismo exacerbado. Mas, até prova em contrário, o comércio livre promove o crescimento global e a paz entre os povos.

As razões desta crise são outras, que teriam existido mesmo sem os excedentes comerciais chineses e os défices ocidentais.

Repare que a Alemanha, que não enfrenta défices comerciais, bem pelo contrário, está também a ser afligida pela crise.

Crise que é, sobretudo minada pela crise de confiança que se instalou no sistema financeiro a nível mundial.

Parece pouco? Mas foi uma enormidade.

Frederico Lucas said...

Caro Rui,
Toca novamente num tema que me consome há vários anos.

Quando vendi em 1999 uma casa que tinha comprado no ano anterior com uma mais valia de 50% percebi que quem definia o valor do imobiliário era a banca.

Fazia pouco sentido para mim que os bancos quisessem financiar mais aumentado obviamente o risco de cobrança. Explicaram-me nessa altura que era um ciclo vicioso, isto é, ao valorizarem por um valor superior estavam a inflacionar os valores de mercado e assim valorizavam os bens hipotecados, aumentando as garantias...

E assim andámos até ao dia em que os valores dos milagrosos empréstimos deixaram de ser suportáveis pela economia real, provocando o descalabro nos incumprimentos.

Por outro lado, ainda não passaram 3 meses que ficámos a saber que os combustíveis não poderiam descer abaixo dos 100 dólares face aos custos de refinação de um petróleo "menos puro" e que o incremento do custo dos cereais provocava directamente uma inflação de 50% no valor final do pão.

Parece-me que mais uma vez o tempo deu uma lição de economia a quem precisava da compreender.

No meio de tudo isto só posso lamentar que os responsáveis pela especulação de que todos fomos vitimas sejam agora protegidos pelo estado, isto é, pelos impostos que liquido com demasiado esforço e privação.

A Chata said...

Não leu a minha última frase.

A culpada é a GANANCIA e esta existe em todas as nacionalidades.

Desmedida e descontrolada, disfarçada.

Aumento de lucros foi o único objectivo dos últimos anos, a qualquer preço e sem qualquer consideração para os efeitos a médio e longo prazo.

"Também não tenho visto quem (poíticos, entenda-se) defenda o levantamento de barreiras alfandegárias como forma de resolver, ou ajudar a resolver, a crise."

Não foi bem isso que eu disse:

" é a PREOCUPAÇÂO com o proteccionismo que pode ser adoptado pelos Estados e, até, com a possibilidade do levantamento de barreiras alfandegárias"

e não estava a falar de politicos.
Esses, estão mais preocupados em 'embalar' o descontentamento crescente das populações e anunciar 'planos de injecções' de dinheiro rapidamente devorado pela crise instalada.

" comércio livre promove o crescimento global e a paz entre os povos. "

Paz entre os povos?
Iraque, Afganistão, Palestina-Israel, Georgia, Bombaim, Darfour...

Crescimento?
Qual crescimento?
Da fortuna de uma 'meia-dúzia' e da miséria do resto.

"Porque os chineses, em consequência da ctise, que também os atinge, estão a consumir menos."

Os chineses talvez mas, os americanos e os europeus estão a consumir MUITO menos.
Não se vendem casas, carros e as cidades-tenda estão a aparecer como cogumelos.
Já reparou nas promoções com descontos de 50 a 70% numa altura em que o comércio estava habituado a fazer mais vendas - mês de Natal?


"Crise que é, sobretudo minada pela crise de confiança que se instalou no sistema financeiro a nível mundial."

Crise de confiança que se instalou porquê?
Como chegámos a este ponto?
Porque foi que, de um momento para o outro, os bancos deixaram de confiar uns nos outros?


A culpada não foi a China nem a América ou a Europa.

A culpada foi a ganância desmedida e descontrolada de alguns e das teorias economicas(quase religiosas) que apoiaram e disfarçaram essa ganancia.

A culpada foi a reprodução descontrolada da raça humana que nos levou aos 6 biliões e tal de individuos sem nos preocuparmos como iriamos sobreviver.

E, no caso deste 'post', a culpa é minha que não tenho a preparação nem os conhecimentos necessários para expôr as minhas ideias com clareza.
Mea Culpa

António said...

Caro Rui,
Hoje não posso, não adianto nada, já foi tudo dito. Fico calado, medito ainda mais nisto, aprendo e fico grato a quem escreveu o que você transcreveu e a quem comentou.
Hoje, fico assim. O meu pessimismo fica mais contente.
Quando será a vez do optimismo?
Até amanhã.

A Chata said...

Antonio

Conhece a anedota brasileira sobre o optimista e o pessimista?

Dois irmãos, um optimista e outro pessimista, fazem anos e recebem prendas.
O pessimista recebe um carro novo lindissimo e diz:
-Oh não! Um carro novo. Vou ter um acidente, vou-me partir todo, quem sabe, vou parar ao hospital.

O optimista recebe uma latinha com bosta de cavalo e diz:
-Que bom! Optimo! Já recebi a bosta, pode ser que para o ano receba o cavalo.

Rui Fonseca said...

Caro Frederico,

É inquestionável que os bancos foram os grandes responsáveis pela especulação imobiliária. Já escrevi acerca disso aqui no Aliás várias vezes. Penso que, também a este respeito, o Banco de Portugal deveria ter intervido no sentido de arrefecer uma situação que era conhecida de todos.

Aliás, nos EUA, onde os meios utilizados foram outros (as badaladas "subprime") os resultados foram os mesmos. E toda a gente sabia o que se estava a passar. Que ninguém pense que estamos a falar de operações mais ou menos discretas. Pelo contrário, era frequente encontrar-se oferta de casa e empréstimo a cem por cento para esse mesmo dia em cartazes toscos espetados nos separadores das vias rápidas, por exemplo.

É lamentável que estejam agora os Estados a resgatar os incendiários?
É lamentável mas é inevitável. O que não é inevitável é que sejam os contribuintes a pagar o preço do resgate. Esse preço deveria, e não percebo que não possa ser, pago pelos accionistas. E pelas administrações que empolaram resultados para embolsarem prémios. Deveriam devolvê-los.

Rui Fonseca said...

"A culpada foi a ganância desmedida e descontrolada de alguns e das teorias economicas(quase religiosas) que apoiaram e disfarçaram essa ganancia.

A culpada foi a reprodução descontrolada da raça humana que nos levou aos 6 biliões e tal de individuos sem nos preocuparmos como iriamos sobreviver."

Minha Cara Amiga,

Nenhuma teoria económica sustenta o ludíbrio. O que os bancos fizeram nos últimos anos é reprovável a todos os títulos e não têm, não podem ter, justificação em qualquer teoria económica. Escrevi uns comentários esta semana a propósito de um artigo assinado por cinco professores de economia, não sei se a minha cara Amiga os leu.

Quanto ao excesso populacional, trata-se de uma questão antiga.

Noentanto, o que se tem lamentado nos últimos anos não é o crescimento populacional mas a sua regressão na Europa, e não só.

Também não creio que possamos ir por aí.

Voltando à China: Pensa que o reerguer das barreiras alfandegárias resolveria o assunto? Como?

Se o fizéssemos (Portugal?, a UE, ? quem? ) os preços de alguns produtos subiriam imediatamente para o dobro, não?. Subíriamos também os salários para compensar a inflação, potenciando-a, desencadeando uma espiral inflacionista. E teríamos capacidade de produção para sermos autosuficientes?

Não, definitivamente não vejo que esse possa algum dia ser o caminho. E oxalá que esse dia não aconteça porque isso só poderia ocorrer numa situação de conflito global.

Rui Fonseca said...

Caro António,

Permita-me que lhe coloque a mesma questão que coloquei à nossa Amiga A.:

Como seria o mundo se voltássemos às barreiras alfandegárias?

Quanto a mim, e conforme referi atrás, só vejo possível essa situação em caso de conflito global.

António said...

Caro Rui,
Desculpe-me ofendê-lo, mas de numeros sabe você.
Sabe de numeros, e de Industria?
Sabe o que é Controlo de Qualidade?
Sabe o que são Normas Industriais?
E de Segurança?
E Dumping?
E Protecção ambiental?
E Direitos Humanos?
Quer melhores barreiras alfandegárias?
Já tinhamos falado nisto, para numeros não conta. Pelo menos para chineses e quejandos.
Mas para nós, Ocidente, conta e muito.
Porque é que eu não posso montar uma industria no meu quintal, pagar salários mínimos, mandar o lixo para a rua e os rios e outros podem?
Então?
Sou menos que eles?

A Chata said...

Lamento, mas continuo a perguntar onde é que defendi que se levantem barreiras economicas?
O que eu disse foi que acho ridicula a preocupação que alguns analistas e comentadores têem manifestado em debates de que os governos pudessem enveredar por aí.

Se quer que lhe diga, na verdade, temo, seriamente, que já não haja solução (minimamente agradável) para o 'buraco' em que nos metemos (com barreiras ou sem barreiras, com professores e prémios Nobel de economia ou sem eles)


"Nenhuma teoria económica sustenta o ludíbrio"

O que me diz de teorias que defenderam que um mercado 'livre', sem regulamentação e controlo gerariam crescimentos economicos fabulosos e a felicidade e bem-estar de grande parte da população.

Só alguém muito ingénuo, ou mal-intencionado poderia acreditar que isso era verdade.

Conhecendo a natureza humana, olhando para a Historia da humanidade qualquer pessoa, com um minimo de bom senso, veria o que iria acontecer.

Trabalho escravo, negócios escuros e toda a espécie de abusos e ludibrios que a mente humana consegue engendrar.

Até o Greenspan já admitiu que nunca pensou que os gestores não eram gente honesta e que iriam defraudar os accionistas das suas empresas.

Sabe o que me chateia?
É que quem paga a 'conta' dos que sacrificaram seres humanos para construir Piramides, palacios de Versailles e casa de banho com sanitas de ouro são as gerações que se seguem.

"Noentanto, o que se tem lamentado nos últimos anos não é o crescimento populacional mas a sua regressão na Europa, e não só."

Tem viajado pela Europa nos últimos anos?

Em Inglaterra, têem nascido nas últimas decadas menos Thomas e Charles mas o número de Mahomed aumentou significativamente, ao ponto de já ser o 3º nome mais usado no registo de crianças.

Se ler os jornais espanhois, todos os dias chegam barcos com emigrantes às costas espanholas.

Só considerando que os emigrantes não são seres humanos, população, é que se pode afirmar que a população na Europa está a diminuir.

Se for a França, visite os suburbios das cidades e quase pensa que está em Marrocos ou na Argélia.

O que interessa se há menos franceses ou suecos de 'gema' se a população mundial continua a crescer e se concentra nos centros urbanos?

Os recursos deste planeta, que temos destruído sem grandes preocupações, têem limites.

Meu amigo, acho que em breve, a bem ou a mal, seremos obrigados a ir por aí.

Quanto a um conflito global não sei mas, guerrilha urbana generalizada já não tenho dúvidas
que vamos ter que enfrentar.

Viu o que se passou na Tailandia e na Grécia?

"Turbas inteligentes" é o que lhes chama um articulista do El País.

"Cientos de miles de personas, muchos de ellos jóvenes sin militancia política pero descontentos con su gobierno, se coordinaban entre sí a través de mensajes de texto enviados desde sus teléfonos móviles. Y los mensajes de texto como instrumento de coordinación política se han convertido en un fenómeno mundial. "

http://www.elpais.com/articulo/internacional/Turbas/inteligentes/elppgl/20081207elpepiint_7/Tes

Rui Fonseca said...

Meus Caros Amigos,

Percebo bastante bem as vossas preocupações mas continuo a pensar que esta crise não foi originada pela globalização, apesar de todas as consequências positivas e negativas que ela determina.

Continuo eu e, pelos vistos, aqueles que têm poder para governar o mundo.

A nossa Amiga A., reafirma que não defende o levantamento de barreiras alfandegárias. Mas então como pensa que se possa alterar o estado de coisas que a apoquenta sem voltarmos ao isolamento económico, que seria também de isolamento político?

O nosso Amigo António continua, indirectamente, a defender esse isolamento. Não vejo como num mundo, que se transformou numa aldeia, possamos levantar barreiras entre quarteirões sem andarmos todos à pancada.

Quanto ao facto de os chineses não garantirem aos seus cidadãos as mesmas vantagens de segurança social, por exemplo, que nos concedemos a nós próprios trata-se de uma questão insolúvel.

Imagine, António, que na sua rua há dois canalizadores. O meu amigo precisa de um. Eles têm igual competência técnica mas um faz um preço melhor que o outro porque trabalha mais horas. Ganha o mesmo por dia mas menos por hora.

Qual deles escolhe? Presumo que escolhe o que faz mais barato. Não penso que defenda que ele deveria trabalhar menos e facturar mais à hora.

Não é assim?

Com os chineses passa-se o mesmo. Escolheram ter menos vantagens para serem mais competitivos.

De qualquer modo, impondo restrições de horas ou aumentos de previdência social resultam aumentos de preços. Compete a cada socidade decidir o que prefere.

De qualquer modo, como já tenho dito, é um erro pensar que os chineses apenas vendem quando é certo que eles passaram a ser o maiores compradores.

A questão está em que vendem uma coisas e compram outras. Não penso que sejam culpados seja do que for. A este respeito, pelo menos.

A Chata said...

Oh Rui!

"Com os chineses passa-se o mesmo. Escolheram ter menos vantagens para serem mais competitivos."

Histórias da carochinha não vale.
Escolheram????
Trabalhar em sweat-shops é o sonho de qualquer um!

Eu sei que os meus comentários sao longos e entendo que os leia, como se costuma dizer, na diaqonal.

"Mas então como pensa que se possa alterar o estado de coisas que a apoquenta sem voltarmos ao isolamento económico, que seria também de isolamento político?"

No meu comentário anterior acho que lhe respondi a isso:

"Se quer que lhe diga, na verdade, temo, seriamente, que já não haja solução (minimamente agradável) para o 'buraco' em que nos metemos (com barreiras ou sem barreiras, com professores e prémios Nobel de economia ou sem eles)"

Já que, parece, continuamos no reino da fantasia, tem alguma varinha mágica?

A sua solução, parece, é continuar pelo caminho que levou milhões de seres humanos à fome, à miséria, ao trabalho escravo, ao desemprego em massa, às comidas contaminadas, aos bancos, empresas e países falidos em nome da liberdade do mercado. ou seja, da liberdade para alguns explorarem, até à morte se necessário, milhões de seres humanos com obectivo de satisfazerem a sua sede insaciável de riqueza e poder.

Solução?
Não tenho.
Mas que, como dizem os brasileiros, «a coisa vai feder», disso não tenho duvida!

Rui Fonseca said...

"Histórias da carochinha não vale."

Minha Cara Amiga A.,

Tem toda a razão na sua observação. Aos chineses não são dadas possibilidades de escolha que, em princípio, são dadas nas economias ocidentais.

Mas então a alternativa seria isolar a China do comércio mundial por não ser democrática.

O que ganharíamos com isso? Teríamos produtos mais caros.

E, repare, nada impede que a minha amiga, o António, eu próprio rejeitemos os produtos made in China. Se o não fazemos, se o não fazem a esmagadora maioria dos portugueses, que culpa têm os chineses?

E volto a insistir: A China é um parceiro económico importante e será cada vez mais como comprador.

António said...

Boa noite,

Um par de sapatilhas Nike.
Produção americana ou europeia:
Custos de produção: 50 Euros ou USD.
PVP: 100 Euros ou USD

Produção chinesa:
custos de produção: 5 Euros ou USD.
PVP: 100 Euros ou USD

Onde estão os produtos mais baratos?

Rui Fonseca said...

Caro António, boa noite!

Sendo assim por que razão comprar os made in China?

António said...

"Sendo assim por que razão comprar os made in China?"

Porque já não se fazem nos USA nem na UE.
Não sabia que tinham fechado as fábricas nestes locais e entregue a produção aos chinocas?
Quem os fazia, agora não tem que fazer, está desempregado, e já não ganha o suficiente para trocar de carro, comprar uma nova tv ou sapatilhas nikes.
Espera-se que quem produz esses produtos, lá pelo Oriente, possa reanimar a economia global, comprando nikes verdadeiras a 100 Euros, carros e televisões.
Não se sabe, porque os economistas também não sabem, quando será.
Isto faz lembrar aquelas provas da maratona em que convidam três etíopes para correr e esperam que quem ganhe sejam outros.
Mais valia levar-lhes o dinheiro dos prémios à cama.

A Chata said...

"O que ganharíamos com isso? Teríamos produtos mais caros."

Duvido que no momento actual, em que desmantelámos a maior parte das nossas estruturas de produção, pudessemos fazer isso.
Nem cuecas teríamos para vestir!

Foi essa ideia fixa e obsessiva de termos (alguns de nós) produtos baratos e lucros fabulosos sem ter em consideração a maneira como o fazíamos, sem levar em conta o futuro a médio prazo, sem ter em conta a exploração de trabalho escravo, de trabalho infantil, o tráfico humano que nos levou a esta situação "fabulosa".

Vá dizer isso aos milhões de desempregados por essa Europa e América fora.
Reclamam de quê? Comprem os produtos que estão baratos!

Meu amigo, está a fazer-me lembrar aquela frase atribuída a Maria Antonieta:
O povo não tem pão? Comam brioches!

Desculpe a insistência mas,
o título foi seu e parece-me que não entendeu bem o que eu tinha dito.
Por isso, volto a repetir:

A China não foi a culpada.
A culpa é daqueles que permitiram e defenderam mais lucros a qualquer preço.
E esses são americanos, chineses, ingleses, franceses, portugueses e de praticamente todas a nacionalidades que se lembrar.

A culpa é da GANANCIA desmedida e cega de alguns.


Só mais uma nota.
Não conte muito com as compras do Chineses para nos safarem do descalabro.
Vamos vender o quê aos chineses?
Magalhães construidos com peças Made in China?
Produtos agricolas? Ah isso era se ainda tivessemos agricultura.
Já nem as minas de Aljustrel os interessa.
Talvez eles apreciem Galos de Barcelos!
Leia as conclusões do último congresso do partido comunista chinês.
Veja para onde foi um empréstimo chinês para exploração de petroleo, ouvi hoje no noticiário, para o Brasil.

Rui Fonseca said...

"Isto faz lembrar aquelas provas da maratona em que convidam três etíopes para correr e esperam que quem ganhe sejam outros."

Caro António,

Gostei desta. Ou gostei, especialmente, desta.

Como a minha constipação (gripe, ou coisa do género)não me tem dado boa disposição, a minha defesa tem-se ressentido disso.

E eis senão quando o meu Amigo me vem com esta dos etíopes.

Se bem percebo o seu argumento, não deveriam convidar-se os etíopes
porque correm bem demais. É isso?

Segundo este seu conceito, dentro em pouco o mundo estaria entregue aos medíocres e os melhores na clausura. Se v. proibe os mais competitivos de entrar em prova depressa acabará por ter uma corrida de coxos. Ou não?

Rui Fonseca said...

"Não conte muito com as compras do Chineses para nos safarem do descalabro.
Vamos vender o quê aos chineses?
Magalhães construidos com peças Made in China?
Produtos agricolas? Ah isso era se ainda tivessemos agricultura."

Minha Cara Amiga A.,

O título que dei ao post em que transcrevi o comentário da nossa boa Amiga procurava sintetisar a essência desse comentário. Se errei, vou corrigir. Peço-lhe, por isso, que indique um título mais pertinente e será feita a correcção imediatamente.

Voltando aos chineses, pese embora a grande admiração que sinto pela sua cultura multimilenar e a forma como ela foi preservada, apesar de muitos séculos de declínio, reconheço muito facilmente que o poder instalado em Pequim favorece uma situação de competição que não é muito leal vista pela perspectiva ocidental.

Como a nossa boa Amiga diz, e eu concordo, os chineses serão os menos culpados, se é que é esta a palavra mais adequada. Culpados serão os que aproveitam as condições dominantes na China para aumentarem as margens do negócio.

Tomando o exemplo do António, os sapatos da Nike,produzidos na China, não são vendidos no Ocidente a preços chineses mas a preços da Nike. Quer dizer: Neste, e em muitos outros casos, o que está em causa já não é a concorrência pelo preço mas a deslocalização pelo custo.

O que é que faz com que isto aconteça? As marcas.

O Ocidente embebeda-se com marcas.
Não importa se vem da China ou de outro sítio qualquer desde que seja "aquela marca" é para comprar.

E esta é já uma constante que se pega às pessoas desde pequeninas. Os meninos vão para a escola com sapatos, camisolas, sacolas, cadernos com marcas. Não aceitam outra coisa porque o amigos deles é o que levam também.

Que culpa têm os chineses disto?

E já gora, que podem fazer as Nike que põem as suas coisas nas montras? Produzir onde lhe fica mais barato, não?

A culpa, se queremos arranjar culpados, está do nosso lado. Toda.
Porque vamos atrás de ilusões, o que, como é bem sabido, conduz sempre, mais tarde ou mais cedo, a precepícios.

Apontar o dedo aos chineses ou aos que lá mandam fazer os seus produtos é apontar ao sítio errado.
O dedo deve ser apontado a nós próprios e daí tirar as correctas ilacções.

Quanto a não termos que vender e, nomeadamente, estar a agricultura há muito tempo de pantanas, é um tema a que já dediquei vários post. Mas, também neste caso, os chineses não têm culpas no cartório.

Os culpados do nossos problemas não são os chineses, ou os turcos. Esses são culpados dos problemas deles. Dos nossos somos nós próprios.

Erramos o tiro quando atiramos para o alvo errado.

A Chata said...

O dedo deve ser apontado à especie humana, que assim como é capaz de gestos magnificos e produzir coisas belas tem também, infelizmente, a capacidade de ser o mais feroz dos animais em relação à sua própia espécie, às outras espécies e ao planeta que partilhamos.

Apesar da nossa capacidade de descobrir novas coisas, de evoluir no conhecimento, não conseguimos aprender com as consequências dos nossos erros de maneira a não os repetir.

E repetimo-los, e repetimo-los ao longo da nossa História com a agravante que o número de seres envolvidos é cada vez maior.

Penso que isto deve ter começado quando um dos homens da Idade da Pedra resolveu atribuir um valor de status social ao facto de ocupar 3 cavernas em vez de 1 ou de possuir mais peles do que realmente necessitava.
Passou a matar mais animais do que os necessários para a sua alimentação e vestuário e a expulsar outros homens das suas cavernas para as poder ocupar.
E os outros homens, em vez de lhe fazerem perceber como estava errado, resolveram competir para ser como ele.

Talvez esteja na altura de conferir à propriedade o seu verdadeiro valor.
A propriedade não existe o que existe é um usufruto por tempo indeterminado (anos de vida).
Os faraós enchiam os tumulos de comida, joias, mobiliário mas, que conste, não lhes foram muito úteis.
(Aquelas múmias têem o aspecto de quem não tem uma refeição decente há milénios)

Uma sugestão para o titulo:

Oh NO! We did it again!

António said...

Estamos, penso eu, a caminho de um record nos comentários.
É bom sinal, a malta dá luta.

"Segundo este seu conceito, dentro em pouco o mundo estaria entregue aos medíocres e os melhores na clausura. Se v. proibe os mais competitivos de entrar em prova depressa acabará por ter uma corrida de coxos. Ou não?"

Meu Caro Amigo, então a quem acha que o mundo está entregue?
Claro que está entregue a medíocres.
Só medíocres se encaminham para a política que é um meio de vender banha da cobra, porque são incapazes para outras funções.
Raramente tem sido diferente.
Se não fossem medíocres, ou mais abaixo, não teriam levado o mundo ao estado em que está. Com a ânsia de poder e de influência facilitam tudo.
Corrupção, tráficos de droga, de influências, de armas, de gente. Tudo lhes serve.
Como exemplo do seu alto desempenho e capacidade, nivelam por baixo e culpam sempre a antecessor, a não ser que seja da mesma cor. E mesmo assim...
Meu caro, esta globalização foi um desastre.
Acredite!

Rui Fonseca said...

"esta globalização foi um desastre."

A globalização, Caro António, não foi invenção de mais ninguém se não dos homens. Crescendo e multiplicando-se, descobrindo, inventando, tornaram o mundo mais pequeno em todos os sentidos.

De modo que, chegados a este ponto, ou nos adaptamos ou não sobreviveremos.

Claro que podem levantar-se barreiras entre os quarteirões da aldeia, jogar à pedrada, e extinguirmo-nos uns aos outros.

É esse o caminho que devemos seguir?

A globalização é reversível mas essa reversibilidade comporta riscos terríveis. O da guerra global é o mais provável.

Quanto à mediocridade dos políticos, já temos falado acerca disso: Não sou, nunca fui, não serei político, nem tenho políticos na família, próxima ou afastada. Mas parece-me muito redutor considerar que político é, por definição um medíocre. Há de tudo, como em qualquer colecção humana.

Mas para além de redutor, é desconfortável pensar que somos dirigidos por medíocres. Então que seremos nós,os não medíocres, par nos deixarmos conduzir pela mediocridade? A escória?

António said...

Então que seremos nós,os não medíocres, par nos deixarmos conduzir pela mediocridade? A escória?

Sim, para eles, somos.
Só servimos para lhes pagar.E bem, para aquilo que fazem, na maior parte dos casos, mal e porcamente.

A Chata said...

"Meu Caro Amigo, então a quem acha que o mundo está entregue?
Claro que está entregue a medíocres."

É o principio de Dilbert em accão meus amigos.

"The most ineffective workers are sistematically moved to the place where they can do the least damage: management"

Precisamos mais que nunca de humor porque, como se gosta de dizer actualmente, estamos à beira de uma depressão profunda (e não estou a falar de economia e finanças).