Tuesday, August 07, 2007

COM A CORDA NA GARGANTA

No mesmo dia em que eram anunciados aumentos nas taxas de juro no crédito à habitação, o Diário Económico inseria um artigo onde dava conta da crescente concorrência no sector bancário:
.
"Bancos menos exigentes quando concedem crédito" "As pressões da concorrência motivam os bancos a descer os "spreads" e a alargar o prazo dos empréstimos para a compra de casa" ..."No primeiro semestre deste ano, as cinco maiores instituições financeiras nacionais reportaram um crescimento dos lucros na ordem dos 21,1% para um total de 1,63 mil milhões de euros" ..."No entanto (indiciam-se) (...) alguns sinais de preocupação neste segmento no que se refere à capacidade dos consumidores assegurarem o serviço da dívida, bem como em relação às perspectivas no mercado do crédito à habitação".
.
Resumindo e concluindo: os Bancos continuam alegremente a explorar o segmento do crédito à habitação como produto privilegiado para o crescimento da sua dimensão e dos seus resultados.
.
Parece escapar, propositadamente ou não, aos analistas um facto que ilude a aparente displicência com que os Bancos analisam a capacidade de crédito dos seus clientes: a exigência de garantias pessoais (fiança dos tomadores dos empréstimos ou de terceiros com solvabilidade suficiente) em sobreposição das garantias reais (hipoteca do prédio financiado). As garantias pessoais são, com efeito, o travão mais eficiente dos bancos para o incumprimento das prestações de capital e juros ou a entrega da propriedade aos bancos em caso de total impossibilidade de cumprimento por parte do tomadores dos empréstimos ou de descida acentuada dos preços das habitações. As garantias pessoais são a corda na garganta dos tomadores dos empréstimos que garantem aos bancos prioridade sobre todos os outros compromissos e, além disso, o bloqueamento à revogação dos contratos em caso de decréscimo acentuado dos preços das casas. Dito de outro modo, se ocorrer uma descida acentuada do preço das casas, ou um aumento incomportável dos juros, os tomadores dos empréstimos estão condenados a suportar para toda a vida (do empréstimo, que tende a ser cada vez mais próxima da vida média dos tomadores) o pagamento de um activo desvalorizado.
.
Se não existissem garantias pessoais seguramente que os bancos seriam mais cuidadosos na análise da solvência dos seus clientes de crédito para habitação. Assim, não.
.
Até que o laço se enlace nos lançadores do laço.

No comments: