Tuesday, November 09, 2021

GOSTAVA DE SER CONDE

O Parlamento aprovou, na generalidade, o projecto de lei do PS que visa conferir "maior transparência e independência" às ordens profissionais. - aqui

As Ordens Profissionais ou são de índole essencialmente corporativa (tendem a limitar a entrada de novos membros, sendo o caso mais evidente desta prática obstrutiva observado na Ordem dos Advogados), ou corporativa e sindical (p.e, Ordem dos Médicos), normativa (p.e, Ordem dos Engenheiros) ou de casa aberta (entra quem quer entrar e pagar quota). A Ordem dos Economistas é um exemplo acabado de uma Ordem Profissional de casa aberta. 

Concorrem a uma eleição próxima duas candidaturas a Bastonário da Ordem dos Economistas. Distinguem-se nos argumentos dos apoiantes de uma e outra no enquadramento político de cada um dos candidatos: um foi nomeados pelo governo de Passos Coelho para presidente da AICEP,  o outro foi ministro dos Transportes no governo de José Sócrates. Não há nenhuma motivação corporativa de restrição de entrada de novos membros nem nenhuma motivação de reivindicação sindical. Navega-se num mar bonançoso onde os membros se reúnem em Congressos para, fundamentalmente, confraternizarem e provarem que a Ordem existe.

O que é um economista?
Pereira de Moura, afirmava em 1964 (Lições de Economia, Clássica Editora, pg. 6), que para esta pergunta, não haverá, talvez, melhor  resposta que uma, aliás tradicional: a Economia é aquilo que fazem os economistas. Tem pelo menos  o mérito de de resistir a todas as críticas (expostas)" ... O que obriga é ter alguma ideia do que os economistas efectivamente fazem." . 
 
Obs. - Pereira de Moura parece, neste caso, deduzir por equivalência semântica que se um médico pratica medicina e um advogado pratica advocacia um economista pratica (estuda, investiga, analisa) economia.
A seguir vêm alguns exemplos das actividades dos economistas indicados por Pereira de Moura, todos incidindo sobre análise/investigação na área económica/financeira.

Tanto quanto julgo saber, a inscrição na Ordem dos Economistas requer prova mínima de sub graduação (licenciatura, agora de três anos) numa das escolas licenciadas.
Um licenciado em economia (ou gestão de empresas), recente ou veterano, que exerce um cargo, ou realiza um trabalho que pode ser realizado sem qualquer restrição legal ou insuficiência de conhecimentos, com habilitações em outras escolas (engenharia, direito, medicina, letras, arquitectura, enfermagem, etc.) é um economista?
Um licenciado em história é, só por isso, um historiador?
Um licenciado em física é, só por isso, um físico?
Um licenciado em matemática, é, só por isso, um matemático?
Um licenciado em geografia, é, só por isso, um geógrafo?
Ser economista é ser detentor de um título como, por exemplo, o major Valentim Loureiro, major para toda a vida?

Dos dois candidatos ao lugar de bastonário qual deles é economista, no sentido de que realiza funções que requerem habilitações específicas para o exercício da função economista, inconfundível com outras funções?
Um foi (ou ainda é) director de um banco. Grande, à medida das nacionais grandezas.  E presidente da AICEP. Directores de bancos não licenciados em economia, finanças, gestão de empresas, há muitos ... e bons. Da AICEP, foi presidente o actual presidente da Câmara Municipal de  Sintra, jurista e político, segundo a Wikipédia.
O outro é um académico, licenciado e doutorado no ISEG. Foi Ministro, mas para o exercício de cargos ministeriais  qualquer habilitação serve, salvo (sem se saber porquê) se for Ministro da Justiça.

A Ordem dos Economistas  é tão aberta, que um candidato a bastonário pode ser admitido hoje na Ordem e eleito amanhã bastonário dos economistas, sem nunca ter realizado funções que qualquer outro profissional, com as mais diversas qualificações académicas, não possa realizar ou ter realizado.
Em conclusão: estas eleições, se não estou mal da vista, é uma disputa entre a esquerda e a direita, o que, só por si, demonstra a isenção científica de qualquer dos candidatos.

O português é um nostálgico da monarquia por mais republicano que se convença ser. Gosta de títulos, e a República não acabou com essa congénita necessidade de ter ou reconhecer títulos.
 
AC, era presidente de uma empresa industrial, provavelmente a maior, medida pelo VAB, e um dia foi convocado para uma reunião pelo Ministro do Planeamento da altura.
A conversa discorria amavelmente, mas algo começou a fazer mexer AC na cadeira em que estava sentado.
O ministro tratava-o por senhor engenheiro isto, senhor engenheiro aquilo, senhor engenheiro ... senhor engenheiro ...
AC, quando o ministro deu uma oportunidade a AC para falar, AC disse-lhe: senhor ministro eu não sou engenheiro ...
Não é engenheiro? perguntou o ministro, que era engenheiro, estupefacto perante o insólito, para ele, ministro, do presidente da maior empresa industrial não ser engenheiro. Não é engenheiro? Então o que é que o senhor é?
AC, um veterano licenciado pelo ISCEF nos anos 50, respondeu: O que sou, senhor ministro? Não sei, mas sei o que gostava de ser. Gostava de ser Conde.


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