Friday, May 25, 2007

CAUSA (POUCO) LIBERAL - 2

Já esperava a contradição: o espírito libertário tem limites que o direito absoluto de propriedade, um dogma libertário, impõe. AA, em A Arte da Fuga considera que " Se um pássaro é pertença de uma pessoa, é absolutamente pertença dessa pessoa. "
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Mesmo como metáfora, é curiosa esta doutrina libertária de propriedade de um pássaro.
Os pássaros, exceptuando aqueles (poucos) que o homem domesticou, extirpando-lhe um dos seus instintos primordiais, são o símbolo mais nítido da liberdade.

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A propriedade de um pássaro, se não decorre de procriação em cativeiro, caso em que o pássaro se voa, voa pouco, só pode acontecer por aprisionamento contra a vontade do cativo.
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Decorre daqui um confronto entre dois vectores libertários: a liberdade do pássaro (que, não pertencendo a ninguém, pertence a todos) e a propriedade do pássaro por acção de armadilha.
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Se o pássaro é caçado e morto para alimentação do caçador, o acto justifica-se por razões antigas de sobrevivência do homem. Se o pássaro é apanhado e colocado na gaiola, nenhuma razão de subsistência humana justifica o cativeiro, e a liberdade coartada ao pássaro é também coartada a todos os que o deixam de ver voar (propriedade original).
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Discordo, pois, em absoluto, que a pertença absoluta seja, em qualquer caso, uma questão de perícia em armadilhas.

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