A blogosfera dá várias voltas à terra. De vez em quando aterram na caixa de imeiles mensagens que já teriam voado, se saíssem da órbita terrestre, porque andam à velocidade da luz, distâncias que chegariam aos confins do universo. Do Humberto, recebi hoje uma dessas mensagens capazes de ter percorrido o infinito . E quem sabe, se não?
Esta.
Considerando a antiguidade do apontamento do autor psiquiatra, o seu prazo de novidade já se esgotou há muito. E, no entanto, ela motivou-me para uma nota sobre um livro que acabei de ler recentemente: Peito Grande, Ancas Largas, de Mo Yan, o vencedor do prémio Nobel da literatura em 2012.
Atravessando a história da China desde a ocupação japonesa durante a Segunda Guerra Mundial até, praticamente, aos dias de hoje (inicialmente publicado em fascículos em 1995), o romance é encenado na região onde Guan Moye (Mo Yan é pseudónimo, significativamente, "não fala") nasceu e cresceu, em Gaomi, no nordeste chinês, e é um registo realista das vicissitudes a que o seu povo foi sujeito pela alternância dos déspotas que a evolução política geral gerava, envolto em narrativas mágicas retiradas da tradição lendária local. Se a influência, entre outros, de Gabriel Garcia Marquez, é muito perceptível no estilo, a mim, a tenacidade da principal personagem - a Mãe - recordou-me A Mãe Coragem de Brecht.
Voltando ao apontamento de Júlio Machado Vaz, Peito Grande, Ancas Largas, é, para além do drama, uma sátira, minada num filão de ironia. Jintong, narrador da maior parte da história, o filho insistentemente procurado pelos meios disponíveis, após um insucesso traduzido em seis irmãs, e ainda uma outra, sua gêmea, revela-se o menos capaz da prole. Jintong percorre toda a narrativa com uma incurável obesessão: pelas mamas das mulheres, de todas, a começar pelas da sua mãe.
"Então a Mãe abriu a blusa e pôs-me o mamilo na boca. Agarrei-me a ele como um afogado a uma palha e mamei desesperadamente. Na minha boca o leite tinha um sabor vegetal ...Com o mamilo na boca e a mão em concha no arredondado da sua mama, ia massando e defendendo (da irmã gêmea) a
outra com o meu pé... Para mim, o processo de amamentação, ao longo daqueles intermináveis meses de Inverno, esteve sempre rodeado de ansiedade, visto que, quando tinha a boca na mama esquerda, só conseguia pensar na direita..."
Mais, só lendo o livro.
Voltando ao apontamento de Júlio Machado Vaz, Peito Grande, Ancas Largas, é, para além do drama, uma sátira, minada num filão de ironia. Jintong, narrador da maior parte da história, o filho insistentemente procurado pelos meios disponíveis, após um insucesso traduzido em seis irmãs, e ainda uma outra, sua gêmea, revela-se o menos capaz da prole. Jintong percorre toda a narrativa com uma incurável obesessão: pelas mamas das mulheres, de todas, a começar pelas da sua mãe.
"Então a Mãe abriu a blusa e pôs-me o mamilo na boca. Agarrei-me a ele como um afogado a uma palha e mamei desesperadamente. Na minha boca o leite tinha um sabor vegetal ...Com o mamilo na boca e a mão em concha no arredondado da sua mama, ia massando e defendendo (da irmã gêmea) a
outra com o meu pé... Para mim, o processo de amamentação, ao longo daqueles intermináveis meses de Inverno, esteve sempre rodeado de ansiedade, visto que, quando tinha a boca na mama esquerda, só conseguia pensar na direita..."
Mais, só lendo o livro.
3 comments:
Grande livro. Mas agora com oprémio deste ano voltei a ficar com a sensação que há portugueses a merecerem ainda mais a distinção
Concordo.
Foram 7 irmãs, mais a irmã gémea... Bom artigo, acabei de ler o livro e ainda estou meio "abananada" com tanta densidade de acontecimentos na história do livro.
Dos escritores orientais gosto ainda mais do japonês Haruki Murakami.
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