Wednesday, January 15, 2014

BIODIVERSIDADE PARLAMENTAR

"... é pena, é mesmo lamentável, que o trabalho excelente e o esforço de tantos seja completamente ignorado ou desprezado a favor de uns quantos que não percebem o que andam lá a fazer..." (aqui)

"É pena que a parte má esmague a parte boa. Às vezes interrogo-me de onde vem a fraqueza de não sermos capazes de fazer vingar o que é bom, que tem valor, sobre o que é mau, que não interessa" (aqui)

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Não fiquei surpreendido quando Armanda me informou que iria estar ausente por razões de campanha eleitoral. Há algum tempo que era conhecida a filiação e militância partidária da família. A Armanda, alta, vistosa, loura, se não passava despercebida onde se encontrasse, era (e suponho que continua a ser) pouco  propensa a debates. Foi candidata em lugar quase elegível, passou a deputada logo que dois deputados pelo distrito foram chamados para funções governativas. Cumpriu uma legislatura, nunca ninguém a ouviu intervir no penário, mas foi frequentemente focada pelas câmaras, quando o debate se voltava para o lado do seu grupo parlamentar ou se acontecia estar presente em eventos político-sociais. 

- Eu sei que não tenho dotes oratórios nem sou nenhum génio,
disse-me Armanda depois de voltar para me informar que iria ter assento na Assembleia da República. E acrescentou:
As funções parlamentares não se esgotam com as intervenções no plenário. A maior parte do trabalho dos deputados realiza-se nas comissões. E é aí que eu penso que posso dar o meu melhor, por pouco que seja. Por outro lado, a Assembleia da República deve ser representativa da sociedade, e na sociedade portuguesa há pessoas mais habilitadas e pessoas menos habilitadas, a sociedade é diversificada e os deputados devem representar essa diversidade. O Parlamento deve ser assim como o país, em escala reduzida. 
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Ouvi-a, e não contestei, apesar de até então nunca ter pensado num parlamento assim, onde a representatividade da diversidade implica a inclusão de mediocridade, que existe sempre em qualquer lado. Desejei-lhe as maiores felicidades e, pelo Natal, passei a receber Boas Festas remetidas de São Bento.Volvidos quatro anos, estava Armanda de regresso, orgulhosa das funções desempenhadas. - Satisfeita? Fez-se o possível. O impossível ninguém faz.


2 comments:

Massano Cardoso said...

Muito bem, Rui. Muito bem. Gostei da "biodiversidade parlamentar". Mas não acha que há "Armandas" a mais? No Parlamento, claro.:):):)

Rui Fonseca said...

Obrigado, Professor, pelo seu comentário.
Francamente, não sei se há Armandas a mais no Parlamento.

Diz S. Toscano no comentário que colocou no 4ª. R que não é dada oportunidade a muitos deputados de se iniciarem sequer nos debates em plenário e que o trabalho das comissões é primordial, confirmando o que me disse Armanda.

O que suscitou o meu apontamento foi o princípio do espelho da sociedade portuguesa no parlamento.

Que nunca me tinha ocorrido mas que, concluí depois, se não é propositado
é bem real.