Wednesday, January 29, 2014

UM CRÁPULA DE WALL STREET


"The Wolf of Wall Street" de Martin Scorsese contém todos os ingredientes habituais para se tornar num sucesso de bilheteira e de enriquecimento com nefanda causa. Como espectáculo cinematográfico é um produto configurado nos moldes hollywoodescos usados e reusados desde os tempos da maria cachucha, agora condimentado com repetidas cenas de devassidão e orgias, hoje geralmente aplaudidas pelo progressismo cultural a caminho sabe-se lá de onde. Com DiCaprio e Margot Robbie, qualquer poltrão na vida real  converte-se na tela numa criatura adulada pelas multidões.

Mas de "Wolf of Wall Street" é sobretudo um ludíbrio moral que começa no título e vai até às cenas finais. Porque o protagonista não foi "o lobo de Wall Street", um animal selvagem que empurrado pela fome desceu ao povoado e abocanhou uns cordeiros, até ter sido apanhado por um tiro que acabou com a ameaça de vez. Quanto muito, Jordan Belfort não foi o lobo mas um dos lobos de Wall Street, distinguindo-se dos outros, os institucionais, pelo seu ponto de partida e de chegada. Acabou por ser preso, circunstância rara,  com pena leve, que não faria dele um mito cinematografável se tivesse sido mais contido na exibição dos seus excessos crapulosos. 

Com a saída de campo de Jordan Belfort nem o jogo que o tornou rico e celebrado terminou nem os crápulas do seu tipo (ou os lobos, para as mentes coniventes ou contemporizadoras) foram extintos. Marcelo Rebelo de Sousa dizia no programa de domingo passado que, além do mais, o filme o tinha desiludido por, ao contrário do que ele pensava, a acção se passar há vinte anos atrás. Uma opinião surpreendente para quem sabe bastante bem que, mesmo depois da crise de 2008, nada há de novo em "Wall Street".

"The show must go on". Haverá sempre cordeiros em toda a parte que "Wall Street" alcance. 

E por cá?
Por onde andarão os lobos do BPN? do BPP? de todos quantos nos sugaram e sugam impunemente?

No comments: