Pois não.
E foi esta a razão que levou à redução massiva do seu número quando o desenvolvimento tecnológico tornou redundante a sua força física no desempenho de múltiplas funções de carga e reboque. Sem direito a greve, nem a manifestação de descontentamento, nem a voto, o número de equídeos é hoje uma reduzida amostra do que era no começo do século XX. No caso do burro, o pachorrento e frequentemente maltratado burro, está mesmo em vias de extinção.
Por incrível que possa parecer, há quem, e não são assim tão poucos, a propósito da questão da desigualdade social e das consequências para o crescimento económico, defenda que tal como os cavalos se tornaram redundantes com o avanço tecnológico por não merecer mais a sua capacidade física o suficiente para os alimentar, também se confrontam com situação idêntica aqueles (seres humanos) que, no século XXI, por falta de habilitações não conseguem um salário decente.
A analogia é chocante mas a questão da desigualdade e suas consequências no crescimento económico recrudesceu nos últimos tempos e foi tema fulcral do discurso de Obama "Estado da União" proferido anteontem no Congresso. E a questão recorrente é esta: é o persistente crescimento da desigualdade decorrente do avanço tecnológico a causa ou apenas uma das causas da redução de postos de trabalho tecnologicamente menos avançados?
Segundo o articulista do Economist, 60% do crescimento do rendimento no top decile foi apropriado por indivíduos com funções financeiras, que em 1998 não seriam mais que 12% dos trabalhadores que se incluiam naquele grupo dos dez por cento melhor remunerados. Foi esta apropriação fruto de vantagens decorrentes de mais capacidades ou melhores habilitações ou resultado de acções e simulações fraudulentas que redundaram em perdas cuja factura foi depois apresentada aos que pagam impostos? Nos EUA em 2010, os top 25 hedge fund managers ganharam quatro vezes mais que o conjunto dos top S&P 500. Para quem tiver dúvidas, ver "The Wolf of Wall Street" pode ser útil.
Os homens votam, e é no exercício da democracia, que não se esgota no voto, no amadurecimento da consciência cívica, que os efeitos perversos da desigualdade sobre do desenvolvimento humano podem e devem ser pacificamente combatidos. "Se os ricos não cuidarem dos pobres, os pobres cuidarão dos ricos".
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