Na edição de hoje do El País é abordada a polémica suscitada pela representação de Espanha na Bienal de Veneza, um monte de 557 metros cúbicos de escombros transportados das proximidades em 100 viagens de barco de 45 minutos, que custará 400 mil euros, afinal de contas uma das menos caras do evento. O Vaticano estará representado pela primeira vez com - "Em princípio" - que custará 700 mil euros, suportados totalmente por patrocinadores. O preço da representação portuguesa, o cacilheiro levado às costas do Trafaria Praia a partir do Tejo, confiada a Joana Vasconcelos é desconhecido: O patrocínio do Estado é de 170 mil euros mas o custo total do projecto será muito superior, segundo declarações da artista.
"Quando se pergunta a Lara Almarcegui, a artista espanhola representante de Espanha, pela polémica gerada em Espanha acerca do custo da sua instalação de seis toneladas de escombros, o sorriso desaparece por uns minutos. “La verdad me da mucha pena tener que hablar de costes y no de arte. Las mismas críticas las he visto en Holanda y lo que generan es un odio al arte contemporáneo. Los recortes a la cultura traerán consecuencias que harán mucho daño”
A resposta de Lara Almarcegui é muito típica da atitude dos artistas contemporâneos a respeito da intocabilidade material das suas criações artísticas, reclamando o direito ilimitado de imporem não apenas os seus conceitos estéticos mas a indiscutibilidade do mérito das suas obras e do preço que os outros, gostem ou não, terão de pagar por elas. E se, porventura, são interpelados, a resposta é uma acusação de enfileiramento reacionário dos interpelantes. Em síntese, uma sentença de santo ofício: Ou crês ou morres.
3 comments:
A Arte sendo subjectiva retrata o olhar e o sentir do artista, e na actualidade, os escombros são uma boa representação das sociedades que se desmoronam.
Obrigado, Fénix, pelo seu comentário.
A liberdade criativa do artista é, deve ser, indiscutível. Tanto quanto a liberdade dos que se pronunciam sobre ela.
A Fénix considera que os escombros são uma boa representação das sociedades que se desmoronam. Eu considero que são uma visão redutora de sociedades que, de um modo ou de outro, sempre atravessaram crises ao longo dos séculos. Mas considero inteiramente legítima a sua opinião. Pelo menos tão legítima quanto a minha.
O que considero ilegítimo é a desconsideração das opiniões contrárias numa matéria em que a subjectividade é incontornável.
Há anos, vi numa exposição ao ar livre feita ao longo dos Campos Elísios vários contentores enormes, de arame grosso,
com os mais diversos materiais e equipamentos recolhidos em vazadouros de lixo. A alusão à poluição urbana contemporânea era evidente.
Mas era arte? Se a arte tem um propósito que propósito se contém no transporte de uma pequena parte de um vazadouro para o centro de uma grande cidade? Ou, no caso de que hoje falamos, dos escombros da periferia urbana para o centro de uma exposição altamente mediática?
Uma transferência suportada numa ideia que nem sequer é original?
É a terapia do choque aplicado à arte. Pode não ser belo mas exprime estados de alma ou chamadas de atenção. Será redutor mas não o será mais do que a arte que exprime o belo com mais ou menos sofisticação. É apenas uma vertente de um olhar e de um sentir!
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