Sunday, August 12, 2012

ABAIXO OS SALÁRIOS!

"BCE pede medidas céleres e decisivas para baixar os custos unitários do trabalho. Depois da Comissão Europeia, é a agora a vez do Banco Central Europeu defender a implementação de medidas que reduzam os custos unitários do trabalho nos "países fortemente afectados pela crise", nos quais se inclui Portugal."

Nos sectores transaccionáveis - aqueles que competem, em Portugal ou no estrangeiro, com a concorrência externa - a redução dos salários já começou há muito. Hoje quem está desempregado ou à procura do primeiro emprego raramente tem capacidade negocial e aceita o salário que o empregador oferece. A redução processa-se, deste modo, de forma lenta mas persistente e atinge desigualmente os diferentes sectores de actividade económica, alguns dos quais escapam à crise por desenvolverem as suas actividades, total ou parcialmente, em ambiente protegido de facto

Os custos unitários de produção não dependem apenas dos custos do trabalho, havendo sectores de actividade onde os custos externos - a energia, por exemplo - representam uma parte importante dos custos unitários totais e que têm vindo persistentemente a crescer em ambiente recessivo.

Quando o Governo decidiu cortar os salários e pensões dos funcionários públicos e, as pensões dos contribuintes do regime geral da segurança social, com o objectivo imediato de reduzir o défice das contas públicas, introduziu um factor de maior desequilíbrio no mercado do trabalho porque atingiu indirectamente os salários de uma parte do sector privado mas deixou quase  intocáveis alguns dos sectores que nos últimos doze anos foram os grandes beneficiário de uma moeda forte. E os preços destes sectores, monopólios de facto, aumentaram o seu peso relativo nos custos unitários de produção dos seus clientes.

Havia alternativa?
Havia mas foi ignorada pela coligação entre as ideologias de esquerda e o politicamente menos incorrecto dos partidos do arco governamental: a redução geral/pontual/proporcional dos salários. Teria sido mais eficiente, porque de resultados mais imediatos, mais justa, porque abrangeria todos de forma proporcional, mais recessiva mas num período mais curto.

E agora? Que vai fazer o Governo após o chumbo do TC aos cortes salariais e pensões dos funcionários públicos e das pensões dos contribuintes do regime geral da segurança social e desta recomendação, que vai em certa medida no mesmo sentido, do BCE e da UE se não adoptar agora o que ignorou antes?

2 comments:

Anonymous said...

Caro Rui
Continuo um ignorante de economia mas não posso deixar de refletir sobre estas questões que todos od dias nos são veiculadas pelos media. Esta questão do trabalho e do preço a pagar por ele já me fez refletir sobre a nossa situação e hoje mais do que nunca pois o banco de Portugal anunciou uma descida acentuada do valor dos salários verificada neste contexto. Se existe uma necessidade enorme em reduzir o valor dos salários e tem-se assistido neste aspecto uma redução drástica do valor e das condições referentes ao trabalho porque motivo não se regula também as mais valias que advêm do mesmo trabalho mas que são também um dos factores de equilibrio da economia. Porque não se põe também tecyos para as mais valias? Qual a percentagem justa para uma determinada actividade que por exemplo já foi regulada no sector do trabalho? Das mais valias ou seja dos ganhos da actividade porque não taxas diferentes para o dinheiro adquirido conforme a sua aplicação? Ou continuamos desenfreadamente a ter ganhos ilimitados para depois a riqueza adquirida podermos especular no sector financeiro desviando recursos para o desenvolvimento económico? A crise ou como lhe querem chamar tem diversas causas e é perpetuada por falta de regulação nos diferentes patamares do sistema económico, mas não é por falta de dinheiro pois hoje a riqueza acumulada no mundo nunca atingiu esta dimensão mas por outro lado a sua distribuição nunca foi tão desiquilibrada como é nos dias que correm. Não estará aí a mãe de todas as causas?

rui fonseca said...

Caro (a) Anonymous,

Obrigado pelo comentário.

Antecipou-se a um complemento que tencionava fazer hoje ao meu apontamento de ontem.

Ainda que o realinhamento em baixa dos salários pareça inevitável (já está a acontecer mas não atinge todos nem é proporcional)a esse realinhamento deveria corresponder em medida idêntica o realinhamento das outras categorias de rendimento.

Tal como está, são apenas alguns e geralmente os mesmos a pagar.

Dir-se-á: Mas porque deverão empresas que são rentáveis baixar os salários? Muitas dessas são rentáveis porque os preços que facturam são protegidos pela ausência de concorrência efectiva e, deste modo, sobrecarregam os custos das famílias ou das empresas clientes.

" a riqueza acumulada no mundo nunca atingiu esta dimensão mas por outro lado a sua distribuição nunca foi tão desequilibrada como é nos dias que correm. Não estará aí a mãe de todas as causas?"

Certamente que sim. As sociedades onde o desenvolvimento humano é mais elevado são, geralmente, também aquelas onde a desigualdade social é menor.