Friday, July 03, 2009

PERFUMES SUÍÇOS

A Primavera trouxe as flores, e o Verão anda a espalhar o cheiro das tílias pelo ar. É um perfume doce e refrescante que envolve o ambiente do centro das cidades nestes breves dias de canícula.
Nos campos, como ha tres decadas atras, continua a sentir-se o cheiro a estrume amontoado junto as casas agricolas para a fertilizacao das areas cultivadas. Nao ha terrenos incultos ate onde a altitude permite a agricultura, a silvicultura ou a pecuaria. As searas, os pomares, os vinhedos, apresentam-se impecavelmente cuidados.

Sendo um dos paises mais ricos do mundo, a Suica apoia com determinacao a sua agricultura, porque esse e, para alem de um factor estrategico de independencia, a autosuficiencia alimentar, um dos vectores mais importantes da valorizacao da paisagem que faz deste pais um destino preferido por quem valoriza a qualidade ambiental e dispoe-se a paga-la.

Tambem neste caso, o contraste com a nossa agricultura nao poderia ser maior. E certo que nao temos as mesmas condicoes climaticas nem os mesmos solos que a natureza deu aos suicos. Mas nao temos menos superficie aproveitavel nem menos recursos naturais que eles. O que temos e uma estrutura fundiaria, valores e habitos que impedem a valorizacao daquilo que temos e que nos fazem dependentes cronicos da importacao de bens alimentares.

Numa altura em que tanto se discute a melhor forma de aproveitarmos os recursos escassos de que dispomos para ultrapassar a crise estrural que mina a economia portuguesa, e lamentavel que ninguem se lembre que ha um sector, sempre abandonado, onde comeca a margem de independencia que poderemos preservar.

Quem independencia resta a quem espera que outros lhe fornecam grande parte daquilo com que se alimenta?
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Alguns acusarao a Uniao Europeia e a PAC de destruicao da agricultura em Portugal. Mas acusam mal. Os unicos culpados dos nossos problemas somos nos. A agricultura foi sempre olhada pelas elites como terreno de gebos. Formam-se agronomos para se instalarem em gabinetes da capital. Os ministros preferem negociar subvencoes em Bruxelas para meia duzia de nababos a desbravar terreno assaltado pela incuria de muitas decadas.
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De que nos servirao comboios de alta velocidade e mais autoestradas se com eles atravessamos um pais ao abandono?

2 comments:

A Chata said...

Mais uma 'moda', um paliativo ou um futuro?

BT offers thousands of workers 'holiday of lifetime' on quarter pay

BT has offered tens of thousands of its employees the chance to go on long-term holiday in return for taking a drastic pay cut.

By Rupert Neate and Harry Wallop
Published: 11:00PM BST 03 Jul 2009

The former state telecoms company - one of Britain's biggest private employers with 106,000 staff - is trying to save money as it struggles to cope with the impact of the recession.
BT has proposed that employees take up to a year off, in return for taking a 75 per cent pay cut. To encourage as many workers to take up of the offer, the company will pay their reduced salary as an upfront cash payment.
It is also offering staff a one-off payment of £1,000 if they switch from full-time to part-time work.
Parents are also being offered the opportunity to work only in school term times, so they can spend the summer holidays with their children.
The radical proposals - leaked to The Daily Telegraph - are the latest example of the private sector having to adopt increasingly desperate and inventive measures to tackle the recession by cutting costs without sacking staff.
British Airways last month asked thousands of its staff to work for free during the summer, and to switch to part time hours. Many car manufacturers have sent workers home on half pay for months at a time.
...
A senior manager in BT said the scheme is designed so that staff can go off on the "long holiday they've always wanted without having to quit their jobs".
...
http://www.telegraph.co.uk/finance/newsbysector/mediatechnologyandtelecoms/telecoms/5735891/BT-offers-thousands-of-workers-holiday-of-lifetime-on-quarter-pay.html

Gostei sobretudo desta visão 'brilhante' vinda de um membro senior de gestão:

"long holiday they've always wanted without having to quit their jobs"

Umas 'longas férias' com 25% do ordenado e as mesmas despesas para pagar ao fim do mês, o mesmos filhos para educar e a incerteza de voltar ao emprego e voltar a receber 100%.

Grandes Férias!


Será que a BT vai trazer de volta os empregos que deslocou para a India?
Será que, depois de uma 'tão boa gestão', ainda tem dinheiro para pagar os "outsourcing"?
Será que, não tarda, fecha portas e será substituída por uma firma Indiana (ou Chinesa) qualquer?

Parece-me que, quer queiramos ou não, vamos voltar à agricultura e à pesca (se ainda houver peixe) quanto mais não seja para subsistir...

Rui Fonseca said...

"Parece-me que, quer queiramos ou não, vamos voltar à agricultura e à pesca (se ainda houver peixe) quanto mais não seja para subsistir..."

Há, certamente, situações contraditórias no mundo em que vivemos. Desde logo porque o crescimento económico (na acepção que normalmente lhe é dada) sustenta-se em muito desperdício. Quando, como é o caso, há uma contracção da procura de muitos bens e serviços dipensáveis, há sectores que enfrentam dificuldades se não estão debaixo do chapéu do Estado.

Mas não creio que vá haver uma situação de carência de alimentos.

Provavelmente, haverá quem tenha de mudar de hábitos alimentares.

Já há gente a passar fome, dir-me-á. Se há, não deveria haver. Uma sociedade minimante decente não o deveria consentir.