O que atrás se transcreve reflecte o estilo de liberdade com que os ficcionistas compõem os seus textos mas também a liberdade com que o público em geral olha a realidade à sua volta: de forma caricaturada e, portanto, tendencialmente desfocada.
Reconheça-se, no entanto, que os economistas têm grossas culpas no cartório onde registam as suas tentativas de apreensão da realidade social e económica a que se dedicam. Transcrevi ontem para aqui alguns exemplos de textos publicados em órgãos de referência no campo económico e financeiro, mas outras posições, de índole parecida, podem ser encontradas transcritas neste caderno de apontamentos. Na generalidade dos casos, os autores assumem culpas de co-responsáveis pela crise, admitindo o falhanço de algumas convicções que eles tinham adquirido como verdades sólidas.
Tenho alguma dificuldade em entender grande parte deste autoflagelo por parte de uma classe de académicos que i) teve alguns representantes que contestaram, alguns há muito tempo, o princípio do equilíbrio dos mercados financeiros ii) outros que previram a evolução para a situação de crise que veio a deflagrar iii) mas, como frequentemente acontece em qualquer domínio da evolução do conhecimento as hipóteses adoptadas pelas maiorias sobrepõem-se às das minorias até ao momento em que a experiência demonstram maior consistência das segundas relativamente às primeiras iv) para além de não existirem nexos de causalidade entre a maior parte dos acontecimentos que originaram a crise e quaisquer teorias económicas por mais neo-liberais que fossem.
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E, depois, o que é que impediu estes arrependidos de terem denunciado a "má teoria" durante tantos anos em que a ensinaram?
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