Thursday, July 02, 2009

OS COMBÓIOS SUÍÇOS

Quando, numa altura em que a questão do TGV promete ser um dos pontos de maior divergência entre o Governo e as oposições, (salvo o BE, a avaliar pelo facto de o seu líder estar entre os 51 subscritores do segundo manifesto) atravessamos a Suíça de ponta a ponta e as suas cidades de um lado para o outro, utilizando os combóios, os carros eléctricos e os autocarros, não podemos deixar de reflectir na nossa indigência em matéria de transportes colectivos e o despropósito de se querer colocar a correr, ao lado dela, um combóio de alta velocidade.
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Não há, provavelmente, situação mais contrastante na Europa, do que a tradição de prestígio, cimentada ao longo de muitas décadas, dos combóios suíços com a decadência imparada dos caminhos de ferro em Portugal. Na Suíça, o combóio é o meio de transporte preferido, qualquer que seja a pessoa ou o seu destino; a estação de caminhos de ferro um centro de actividades sem descanso; o caminho de ferro, o transporte de mercadorias privilegiado pela lei e pela cultura ecológica do povo suíço. Na Suíça, a rede ferroviária tem crescido incessantemente; em Portugal os caminhos de ferro têm sido desprestigiados por todos, a começar por aqueles que têm sido, desde há muitos anos, chamados a governá-los.
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A Suíça é um dos países mais ricos do mundo mas não ninguém discute se três horas é muito tempo para ir de Zurique a Genebra, uma distância percorrida a uma velocidade horária média de 110 quilómetros. Para quê, mais velocidade? Para quê, se durante esse tempo pode ler ou redigir relatórios, preparar reuniões, tomar o pequeno almoço, o almoço ou o jantar consoante a hora da viagem?
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Para quê, TGV?
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Em Portugal, precisamos, seguramente, de mais e melhores combóios. Não precisamos de mais autoestradas mas precisamos de melhores vias férreas. Mas a alta velocidade excede, claramente, as nossas necessidades e os nossos recursos.

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