No monitor, um filme antigo das actividades na fábrica da Almirante Reis.
Centenas de pessoas encadeando-se nas operações que realizam.
Hoje, em Vialonga, aqui um, ali outro, olham, quase desprendidamente, para as cadeias transportadoras na ala do enchimento. A produção multiplicou-se incessantemente mas o emprego reduziu-se. É a produtividade, que contribui com a sua quota parte na luta pela quota de mercado onde o marketing e as vendas são os sectores decisivos numa guerra sem tréguas.
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- Um dia destes, (mandam-se as máquinas às malvas) e voltamos aos tempo antigos.
- E por quê?
- Porque a continuação de perdas de emprego vai gerar convulsões sociais imparáveis. As pessoas precisam de trabalhar.
- Precisam por quê?
- Ora por quê ... porque têm necessidade de garantir a sua subsistência.
- Não é o trabalho que garante a subsistência mas os rendimentos que são colocados à disposição de cada um. O que não quer dizer que o trabalho não seja necessário por razões de natureza psicológica. Inserido numa sociedade onde o trabalho é visto como uma ocupação que dignifica o trabalhador, o não trabalho induz uma imagem contrária.
- Mas de onde provêm os rendimentos para sustentar a crescente redução do trabalho?
- A redução do trabalho não é de agora. A história económica mostra que a evolução do tempo de trabalho se tem reduzido para a generalidade das ocupações tradicionais, isto é, daquelas que não estão relacionadas com as inovações tecnológicas mais recentes em cada período considerado. Essa redução tem sido observada não só no número diário de horas trabalhadas mas também no número de horas de dias de trabalho anuais. E não há nenhuma situação em que se tenha observado uma tendência inversa. Uma vez experimentada uma inovação tecnológica que substitui o homem pela máquina, o ajustamento que essa substituição implica tem-se realizado pela redução do trabalho. Por outro lado, já hoje se oberva a oferta de serviços gratuitos na área da informação. A Internet é o exemplo mais visível desta tendência.
- E o resto?
- A evolução para um sociedade onde a automatização dispensará do trabalho a maior parte do tempo da humanidade será lenta. Mas é inevitável porque a capacidade de produção é tendencialmente ilimitada mas a capacidade de consumo (seja do que for) está tendencialmente limitada pelo número de horas de cada dia. Deste modo, caminha-se para uma situação económica inversa daquela que se observa actualmente. A oferta de bens e serviços satisfará toda a procura, o trabalho tornar-se-á escasso. Como, pelas razões psicológicas que referi, haverá sempre candidatos a trabalhar e o trabalho passa a ser escasso, o acesso ao trabalho passa a ser remunerado. Quem quiser trabalhar, paga.
- Como?
- Com dinheiro?
- Mas de onde virá esse dinheiro?
- Dos bancos emissores. Como hoje.
2 comments:
Colocar o problema no trabalhar ou não trabalhar é redutor, desde logo porque o conceito de trabalho não é unívoco:pode-se comparar o trabalho de um mineiro com o de um cantor? Dar pontapés na bola é trabalho? Ou, como diz a anedota, casar com uma grávida para não ter trabalho induz trabalho? etc.,etc.Quanto a mim o verdadeiro problema é tipificado por uma palavra considerada muito forte que é "exploração", resultante da ganância não do homem em si mas do sistema que criou.Produtos que a natureza dá são apropriados por alguns para obter lucros que nada têm a ver com o custo do trabalho.Repara que pagas mais por um litro de água num café do que por um litro de gasóleo para o teu carro."Aliás" a ideia do trabalho como penosidade vem da tradição judaico-cristã ("ganharás o pão com o suor do teu rosto")donde a relação de crime-castigo.Creio eu que a questão do trabalho só pode ser analisada correctamente como relação.Mas lá que não é uma questão nada simples isso é verdade.
Caro Francisco,
Obrigado pelo comentário. Aproveitei para reescrevinhar mais alguma coisa sobre o assunto. Vê sff em Sagres 2.
A propósito da condenação bíblica, comentei há dias num outro blog:
" Não se esqueça que, segundo as escrituras sagrado, o homem foi condenado por se ter portado mal. Por causa do pecado original foi expulso do Jardim das Delícias e condenado a ganhar o pão com o suor do rosto.
Mas isto, caro JCS, aconteceu, na pior das hipóteses há uns milhões de anos. Segundo as escrituras, talvez há meia dúzia de milhares deles. De qualquer modo, o tempo de expiação do pecado já é muito longo.
Ainda que o homem, expulso, não tenha deixado de continuar a cometer o tal original pecado, trata-se, contudo, de uma falta continuada, coisa que, segundo os códigos conta uma vez por todas.
É, portanto, muito natural que, cumprida a pena, o homem (e a mulher, evidentemente) possa voltar para o Jardim das Delícias onde os frutos crescem sem fertilizantes artificiais e o único trabalho pedido ao homem será o de ter de estender a mão para os apanhar.
Não há, como se demonstra, uma obsolescência do homem mas uma libertação de uma canga milenar, ou milionear, conforme as estimativas.
O resto é pessimismo deprimente. Deixe-se disso. É conversa de tipos com o triplo da sua idade."
http://www.lobidocha.com/?p=1181#comments
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