Friday, July 10, 2009

CALVINO

Calvino, nasceu, faz hoje, 100 anos.

Genebra, onde se refugiou e desenvolveu o seu pensamento reformador, celebra este ano o centenário com a encenação da intervenção de Calvino na sociedade do seu tempo. O Museu Internacional da Reforma Protestante, junto da Catedral de São Pedro, inaugurado em 2005, é, naturalmente, também dedicado sobretudo à intervenção reformadora de Calvino.
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David Landes, que em "A Riqueza e a Pobreza das Nações", edição portuguesa da Gradiva, subscreve as teses de Max Weber a propósito da contribuição de Calvino para a emergência de sociedades social e economicamente mais bem sucedidas, afirma:

"...desde cedo a Igreja decidiu que apenas as pessoas qualificadas, certos clérigos, por exemplo, deveriam conhecer a Bíblia, que, com as suas leis e moral igualitárias e reprimendas proféticas ao poder e exaltação aos humildes, convidava à indisciplina entre os fiéis e ao desentendimento com as autoridades seculares. Só depois de censurada e suavizada poderia a Bíblia ser a conhecer aos leigos. Foi preciso aguardar o aparecimento de seitas heréticas , tais como Valdenses (c.1175), Lolardos (c. 1376), Luteranos (a partir de 1519) e os Calvinistas (meados do séc XVI), com a sua ênfase sobre a religião pessoal e a tradução da Bíblia para vernáculo, para essa tradição judaico-cristã ingressasse explicitamente na consciência política europeia, ao lembrar aos soberanos que recebiam de Deus a riqueza e o poder, mas na condição de se portarem bem. Uma doutrina inconveniente."


" Em 1506, Lisboa viu o seu primeiro progrom, que deixou um saldo de 2000 "cristãos novos" mortos. (A Espanha já praticava essa prática há duzentos anos). Desde então, a vida intelectual e científica de Portugal nasceu a um abismo de intolerância, fanatismo e pureza de sangue... Em 1600, mais ainda em 1700, Portugal tornara-se um país atrasado e fraco. Os cientistas, matemáticos e físicos criptojudeus de anos idos, tinham fugido todos os lados e nenhuma voz discordante veio ocupar o lugar deles. Em 1736, D. Luís da Cunha deplorou a ausência de uma comunidade reformista (calvinista) em Portugal. Assinalou que o desafio huguenote evitara que o clero católico francês tivesse mergulhado no "sórdido" nível de obscurantismo dos seus confrades portugueses. Palavras muito provocadoras, mas certeiras: se os lucros do comércio de mercadorias são substanciais, são contudo pequenos quando comparados com o intercâmbio de ideias."

"Max Weber publicou em 1904, provavelmente, a mais estimulante explicação para o avanço do Norte (protestante) sobre o Sul (católico), "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo". A sua tese: o protestantismo - mais especificamente, as suas ramificações calvinistas - promoveu a ascenção do capitalismo moderno, ou seja, o capitalismo industrial que ele conheceu na sua Alemanha natal. Para tanto, disse ele, o protestantismo não atenuou ou aboliu os aspectos da fé romana que tinham impedido ou dificultado a actividade económica livre (a proibição da usura, por exemplo), nem encorajou, muito menos inventou, a busca de riqueza: mas definiu e sancionou uma ética de comportamento quotidiano que conduzia ao sucesso nos negócios.

"O protestantismo calvinista, disse Weber, fez isso inicialmente ao afirmar a doutrina da predestinação ... Uma tal crença poderia ter facilmente encorajado uma atitude fatalista... Porque ser bom? Porque, de acordo com o calvinismo, a bondade é um sinal plausível de eleição. Qualquer um pode ser eleito, mas é razoável supor que a maioria dos eleitos teria de mostrar pelo seu carácter e pelo seu modo de vida a qualidade da sua alma e a natureza do seu destino ("Nem todas as pessoas asseadas são boas, mas existem poucas pessoas boas que não sejam asseadas")... E, embora a crença firme na predestinação não durasse mais de uma geração ou duas, ..., acabou por se converter num código secular de comportamento: trabalho perseverante, honestidade, seriedade, uso parcimonioso do dinheiro e do tempo (ambos concedidos por Deus).

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