Wednesday, July 08, 2009

BEZERROS DE OURO

Ligo a TV e passo, por acaso, pela TVE. Estão a dar em directo o "encierro" deste ano, em Pamplona, que inaugura as festas de San Fermin. O "encierro" não dura mais que um breve par de minutos mas entre entrevistas antes e entrevistas depois, acompanhadas de repetições ao retardador, faz a TVE um programa que está a ser visto por milhões de aficcionados e curiosos. Em Pamplona, mais do que os touros, são idolatrados aqueles que correm à frente deles. E, tanto mais, se há feridos mandados pelos chifres dos animais para os hospital. Esta manhã não houve feridos, os touros mostraram timidez pouco conveniente a um programa televisivo.
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Em Madrid, há dias, o idolatrado foi outro: o futebolista mais caro do mundo, no momento em que chegou ao pódio para ser venerado por dezenas de milhares de adoradores, já tinha vendido quase cem mil camisolas. É o delírio da camisola, o do futebol ver-se-á mais tarde.
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Na Suíça, o ídolo é Roger Federer. Voltou a número um do ranking mundial e já bateu o que havia a bater. Para os suíços, Roger é a sublimação da perseverança, do trabalho, do método e da modéstia que caracterizam os helvéticos.
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Em Los Angeles, a idolatria atinge o clímax global por um ídolo morto. Se este delírio universal é sintoma de um modelo a que aspiram os seus adoradores, o mundo caminha a passos largos para a desconstrução do homem.
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Chegará a Idade dos Transformers, e o fim dos bezerros de ouro.

4 comments:

aix said...

Caro Rui,o mundo estará perigoso ou nós não vamos com ele?
-os touros de Pamplona estão uns covardes estraga festas
-33 minutos foi o tempo dedicado pela RTP à apresentação do Cristão (à portuguesa)Reinaldo.Qual o critério jornalístico pergunto-me eu.Para os que gostam de futebol (eu gosto)só me interessa ver o rapaz a jogar.Para os que gostam de boas palestras devem estar satisfeitos com a oratória brilhante do Florentino ou ter desmaiado com o emplogante improviso do homenageado.Ainda se ao menos a TV nos tivesse mostrado umas espanholas de arregalar os olhos...
-Sobre o(s) triste(s)espectáculo(s)
televisivo(s) da vida e morte do inenarrável americano Miguel o melhor é estar calado.Só penso no modelo que apresentamos aos nossos jovens para sua orientação.Mas enfim,evoco a sabedoria da minha avó analfabeta: este mundo está perdido.

A Chata said...

Os artigos mais lidos do Daily Telegraph diz muito:

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1. Uncovered: 350-year-old picture of dodo before it was extinct
2. Michael Jackson memorial service: daughter Paris pays tearful tribute
3. Michael Jackson memorial service: the biggest celebrity send-off of all time
4. Michael Jackson funeral and memorial service: live
5. Michael Jackson's children prepare to face the world at LA memorial
http://www.telegraph.co.uk/

Para além da ave extinta, outra 'ave' extinta Michael Jackson , Michael Jackson, Michael Jackson , Michael Jackson , Michael Jackson é o que desperta o interesse dos leitores.


Por cá, Michael Jackson entremeado com Ronaldo, Ronaldo, Ronaldo, uns casos de gripe A e mais umas fraudezitas que vêem a lume (quando os ossos começam a ser poucos os cães começam a morder-se uns aos outros).

Entretanto no G8, Berlusconi faz-se acompanhar de uma jovem ex-modelo/stripper, Jin Tau volta a correr para casa onde andam a matar manifestantes às centenas (não se sabe ao certo quantos) e Obama de mão dada com Sarkozy com a Merkl a assistir aparecem a rir, a bom rir.

Reunidos numa cidade destruída, com um desemprego e falências galopantes nos seus países, o clima cada vez mais imprevisível (até parece que o serviço meteorológico foi invadido por alguns economistas) fizeram-me lembrar da piada da hiena.
Riem de quê?

Rui Fonseca said...

"este mundo está perdido"

Caro Francisco,

Para a semana vamos tentar encontrá-lo.

Abç.

Rui Fonseca said...

"Riem de quê?"

De nervoso.
Os nervos também dão para rir.
Não vejo outra razão.

Há dias, vinha de Casablanca para Lisboa num avião com algumas cadeiras partidas e um aspecto, em geral, lamentável.

Um grupo de portugueses, ironizava a propósito do mau estado do aparelho, e eu perguntei a um deles, que viajava a meu lado, porque se ria ele.

Repondeu-me: O que é que quere que eu faça? Que chore?

Deve ser o mesmo sintoma.