A Caixa Geral de Depósitos tem vindo a encaixar, directa ou indirectamente, os casos mais bicudos que a crise veio por a descoberto. O BPN já vai nos 1,8 milhões, com tendência para crescer, e ainda ninguém sabe quanto é que o buraco custará a cada português. De momento, o assunto rende entretenimento, que é uma coisa que se paga.
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A semana passada soube-se que a Caixa adquiriu uma posição de um accionista da Cimpor a um preço superior a 25% ao do mercado com o objectivo de safar o accionista a quem em tempos a Caixa emprestou dinheiro para ele se bater por uma posição relevante na cimenteira.
O caso não tem nada de original nos hábitos da casa: foi a Caixa quem alimentou grande parte da confrontação accionista que se desenrolou a partir de certa altura no BCP emprestando a uma das partes em confronto. Como o caso deu para o torto, os accionistas do BCP com fundos emprestados pela Caixa encostaram às boxes, e o então presidente da Caixa, passou a presidente do BCP levando com ele o colega vice. Ficou tudo em família, e os pequenos accionistas a verem navios passar.
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Quando, agora, se fala um pouco por toda a parte acerca da inevitabilidade da nacionalização dos principais bancos insolventes como forma de repor a confiança e estancar a crise, é bom não esquecer que a propriedade do Estado não garante, só por si, a honorabilidade dos processos das instituições que detem. Em Portugal, a Caixa não se distingiu do rebanho e foi uma das grandes promotoras do processo especulativo imobiliário e bolsista. Agora que a crise aperta os devedores especuladores, a Caixa vê-se obrigada a dar-lhes guarida porque o problema maior passou a ser dela.
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A propriedade do Estado nunca garantiu a melhor defesa dos interesses dos cidadãos, globalmente considerados. Transitoriamente, por razões de confiança que a generalidade das pessoas deposita no Estado, a nacionalização pode ser uma solução sem alternativa; mas não será, seguramente, nunca a melhor solução para evitar a utilização especulativa das poupanças.
A melhor solução só será atingida se forem separadas as águas: entre bancos de depósitos e bancos de investimento; entre bancos operando fora de off-shores e bancos que operam em off-shores. Para que cada um saiba bem com quem lida.
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