Na entrevista ao Público, de que transcrevi alguns excertos aqui, Soares dos Santos referia também que tinha sido seu avô o primeiro empresário em Portugal a pagar o 13º. mês aos seus empregados, para além de outras iniciativas (concedia-lhes também condições para frequentarem o ensino comercial, por exemplo) socialmente inovadoras.
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Não duvido das boas intenções do avô de Soares dos Santos ao decidir-se pelo pagamento do 13º mês, mas também não duvido que a sua perspicácia para o negócio lhe deve ter sugerido que o pagamento de um mês (em lugar de um aumento correspondente distribuido pelos 12 meses do ano) daria aos empregados (consumidores) um incentivo para aumentarem o volume dos seus negócios se a sua iniciativa se alargasse a outras empresas e ao Estado, como veio a acontecer.
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Depois do 13º. mês veio o subsídio de férias, com intenções idênticas.
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Hoje, a prática de pagamento do ordenado em 14 mensalidades, em lugar de 12, continua a ter uma evidente incidência no aumento pontual (e, portanto, frequentemente desnecessário) do consumo. É nos meses em que o subsídio de férias é pago e no fim do ano que as compras mais perdulárias acontecem com evidentes consequências negativas sobre as tesourarias da maior parte das empresas e agravamento do défice comercial porque uma grande parte destes fluxos adicionais se dirigem a compras ao estrangeiro.
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Sendo certo que o problema da dívida externa não tem solução milagrosa, só a alteração de alguns hábitos do lado do consumo (para além do lado da produção, evidentemente) pode reequilibrar a défice estrutural do país.
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O pagamento do ordenado anual em 12 mensalidades poderia dar uma ajuda nesse sentido, ainda que pequeníssima, comparada com o saldo negativo brutal que as contas externas apresentam.
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