Por mais que a acusação pareça ofensa, as bolsas comportam-se em todo o mundo como verdadeiros casinos em larga escala. Depois de cairem desalmadamente durante vários dias para valores que pouco ou nada tinham a ver com os valores das empresas cotadas recuperaram explosivamente durante os dois primeiros dias da semana para voltarem a cair no terceiro dia. Amanhã, muito provavelmente, cairão de novo. Depois, poderão voltar a ranger de madrugada no Japão, contorcerem-se na Europa e estatelarem-se nos EUA.
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Há muito que as bolsas deixaram de ser primariamente uma fonte de financiamento das empresas para se tornarem fonte de especulação sem freio. E assim como a opacidade que permitiu aos produtores de tóxicos financeiros acabou por provocar a implosão do paiol dos manipuladores, que entretanto se refugiaram em resorts onde continuaram a sugar como se nada tivesse acontecido, também as bolsas acabarão por se abaterem à força de tantos swings, depois de depenada a pardalada.
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E, no entanto, poderiam, e deveriam, existir regras que refreassem a condição de casinos que as bolsas tendem nas condições actuais, inevitavelmente, a assumir: bastava que se estabelecesse claramente a obrigatoriedade da diferenciação entre os investidores que, com as acções que detêm, influenciam ou pretendem influenciar o governo das empresas, daqueles que esperam apenas remuneração das suas aplicações. Aos primeiros, detentores de acções ordinárias, é concedido o direito de voto; aos segundos, detentores de acções privilegiadas sem direito a voto, a garantia da precedência na distribuição de dividendos. Um e outro instituto existem há muito mas o segundo foi, praticamente, extinto pelo instinto de casino.
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Que existe, ainda que alguns não queiram ver nem ouvir. Até que ruptura total imponha regras de tratamento diferenciado aquilo que na realidade é bem diferente. O capitalismo popular foi a grande ilusão com que atraíram os clientes ao casino, mas que acabará por levá-lo à glória.
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