Nos tempos que correm, o que mais há são dívidas.
As famílias estão endividadas, o Estado está endividado, o Ocidente, idem aspas.
O meu Amigo M., (não desvendo o nome porque o segredo continua a ser a alma de alguns negócios) tem algumas.
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Há dias confidenciou-me que estava a engendrar um modelo de negócio que consistiria em vender as dívidas que tinha.
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Ouvi-o atentamente mas, por não ter descortinado imediatamente o alcance da engenharia financeira que poderia suportar a proposta do meu Amigo, fui incapaz de contrapor ou sequer duvidar das eventuais potencialidades da ideia, considerando que os produtos fiananceiros se tornaram se não todos tóxicos pelo menos inentendíveis para o cidadão comum que, apesar de tudo os comprou.
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Ficou o meu Amigo desiludido com a minha ausência reactiva, vim a saber mais tarde.
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Interrogava-me o Amigo M., se será admissível, num contexto de livre iniciativa de mercado, que um passivo honrado e não poluente seja considerado pior que um activo tóxico gerado pela ganância e pela agiotagem. E, que, dado o divórcio crescente entre o título financeiro e o activo (nesta caso passivo) que lhe deu origem, que importância tem tratar-se de uma dívida ou de um crédito, se o que conta é o valor gerado pela alavancagem que este proporciona? Claro que haverá um risco mas, de acordo com vozes autorizadas, o progresso económico nunca se concretizará se não houver uma enorme capacidade de risco. Estes, basicamente, os argumentos do meu Amigo, mais tarde explicados em e-mail que me enviou.
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A que acrescentou:
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"Se eu posso legalmente vender papel que não me pertence, através de operações de short selling peladas, e ganhar com isso bom dinheiro, não haverá menos risco se eu vender o meu passivo, sendo certo que poderia de um dia para o outro ganhar o suficiente para recomprar a minha dívida?"
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e termina:
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"Comprometo-me, se for ajudado a levar a cabo esta iniciativa, a ter o bom senso de, em caso de novo crash bolsista, não ir apressadamente desfazer-me do meu passivo financeiro, para não contribuir para o agravamento da crise, A Bem da Nação.
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Meu Caro M.,
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A minha disponibilidade é total. Poderemos desde já estabelecer um plano de acção a levar a cabo enquanto a crise dura. E vai durar muito.
Primeiro passo: Fundarmos um banco. Sem banco não teremos hipóteses nenhumas de assentar a nossa estratégia. Engenharias destas só são consentidas aos banqueiros.
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Avante com um banco, portanto! Maiores há muito, ninguém poderá impedir-nos de nos tornarmos banqueiros. Até porque para banqueiros se nos faltam dinheiros não nos faltam dívidas. Que é aquilo, ao que consta, os bancos hoje mais têm.
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