Tuesday, October 07, 2008

GRANDE OPORTUNISMO

Por amabilidade do médico JS, recebi fotocópia da notícia da provável entrada de um atleta de alta competição na faculdade de medicina da Universidade do Minho, via programa "Novas Oportunidades", acompanhada do comentário seguinte:
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É mais uma história de sucesso do Programa Novas Oportunidades, o tal programa tão elogiado pelo primeiro-ministro. Um programa que conduzirá Portugal ao primeiro lugar mundial nas estatísticas sobre Educação. Agora, ficamos a saber que Pedro Póvoa, atleta de Taekwondo, vai entrar em Medicina sem nunca ter posto os pés numa escola secundária. Desta forma, o Governo manda uma mensagem a todos os jovens portugueses: não é preciso estudar Biologia nem Química para entrar em Medicina. Nem é preciso frequentar o ensino secundário durante 3 anos. Bastam 6 meses no Nova Oportunidades. E a Ordem dos Médicos fica calada? Está revoltado? Não vale a pena revoltar-se. Não queira ser apelidado de 'pessimista de serviço'! Já se sabia que o Nova Oportunidades está a dar diplomas do ensino secundário à velocidade da luz. Ficamos agora a saber que há quem veja nele o caminho mais curto para ser médico. Já tínhamos engenheiros civis sem Matemática e Física do secundário, economistas sem Matemática e linguistas sem Latim. Agora passamos a ter médicos que tiraram o 12º ano em 6 meses. Estudar Biologia? Para quê? Química? Não é preciso! Matemática? É chato!

4 comments:

Rui Fonseca said...

Em princípio, a admissão à Universidade é apenas o primeiro passo para uma formatura. É na Universidade que se deveriam por os problemas de exigência (superior). Se este indivíduo tem ou não formação para acompanhar o
andamento, é à Universidade que compete avaliar.

Não quero dizer com isto que advogue todo este facilitismo em que ensino em Portugal embarcou há muito tempo. O que quero dizer é que não pode (não deve, melhor dizendo) demitir-se da sua função de ensinar e investigar com a qualidade que o ensino universitário exige.
Muitas vezes as Universidades queixam-se que os alunos entram com
enormes insuficiências de ensino, sobretudo das matérias nucleares.
Mas são as Universidades que os admitem e depois os avaliam.

Salvo melhor opinião

António said...

Pois é. Chega à porta e diz, estou aqui. Quero e parece que posso entrar. Eles deixam, mas depois deixam, deixam, sempre a passar, não é isso?
Se não for assim, apanham.
E saem de lá a saber um bocado de Excel, pouco Word e muito Power-Point.
Aprendem cá fora.Nós pagamos.

António said...

Nem de propósito...

Mais de 50 por cento dos licenciados em engenharia chumbam no próprio exame da Ordem, que é obrigatório para o exercício da profissão. Quem o diz é o bastonário da Ordem dos Engenheiros.

O Bastonário da Ordem dos Engenheiros, Fernando Santo, considera que que esta é uma situação que pode vir a comprometer o futuro do país

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Fernando Santo diz que o problema não está no ensino superior, mas no básico e secundário

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O Bastonário mostra a sua preocupação pela mal preparação dos alunos


Em declarações à TSF, o bastonário da Ordem dos Engenheiros, Fernando Santo, criticou o facto de apenas metade dos 316 cursos de engenharia exigir a disciplina de matemática.

Fernando Santo afirmou que esta é uma situação que pode vir a comprometer o futuro do país.

«Este é um problema dramático, nós estamos a comprometer o futuro dos jovens, do país e estamos a fazer baixar o nível de muitas escolas que têm de se submeter a estas regras», considerou.

Para o bastonário da Ordem dos Engenheiros, este é um problema denunciador de um ensino de facilitismos.

«O problema não está no ensino superior, este é já uma consequência de um tipo de ensino de facilidades de escola-lazer do ensino básico e do ensino secundário. Enquanto não resolvermos esse problema dos 36 por cento de pessoas que saem do ensino secundário sem o completar, enquanto não mudarmos esse modelo de escola, a universidade acaba por estar refém da matéria-prima que chega», afirmou Fernando Santo

Rui Fonseca said...

Caro António,

É no mínimo estranho que o bastonário da Ordem dos Engenheiros atribua a falta de qualificação dos engenheiros à má qualidade do ensino secundário.

Vamos por partes:

1 - Eu também penso que o ensino secundário está muito mal servido
de professores (em qualidade, não em quantidade) e os pais são em grande parte também responsáveis pelo insucesso escolar: preocupam-se que o filho passe e não que o filho saiba.

2 - Também penso que ao ensino secundário deveria ser dada prioridade na afectação dos recursos utulizados na educação.

3 - Penso que o ensino Universitário deveria ser pago pelos estudantes com capacidade financeira e na medida dessa capacidade, deslocando recursos para o secundário.

4 - Mas são os empregadores quem devem exigir qualificações. A começar pelo Estado e pelas Universidades, submetendo os candidatos a exames das matérias que reputem importantes para o lugar (ou para o curso).

Porque se ao aluno se exigem conhecimentos mas esses conhecimentos não são submetidos a provas realizadas fora dos estabelecimentos de ensino, se uma cunha tem prioridade sobre uma boa nota, que motivação há para estudar, salvo os raros casos daqueles que estudam pelo prazer de o fazer?

A Ordem dos Engenheiros faz exames rigorosos e é bom que os faça se os não fizer por espírito de defesa corporativa. Mas quantos empregadores exigem a inscrição na Ordem salvo os casos em que a lei o exige?

Só haverá qualidade na educação quando houver exigência dos empregadores. E das Universidades, como degrau superior ao secundário.

O resto é um vício velho: Atribuir os problemas nacionais e os outros, de hoje, ao Afonso Henriques.