Saturday, October 04, 2008

A GLOBALIZAÇÃO DA CULPA

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Um tipo, o Xico, tem um emprego, ganha um ordenado certo, faz as contas e além das despesas normais em que inclui a prestação da casa, verifia que tem alguma folga e resolve trocar de carro. Ia ganhando mais algum numas horitas extra, uma promoção e correspondente aumento salarial, talvez até tivesse um part-time qualquer, a mulher fazia uns arranjos em roupas e entrava mais algum que ajudava a compor o orçamento.
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Um belo dia, a empresa onde trabalha, resolve fechar e mudar de ares contribuindo para a tal globalização. Fica desempregado e na sua região não consegue emprego compatível com as suas habilitações profissionais. Como ele, há centenas. Ao lado, outros tantos, perfazendo milhares. Acontece em Portugal e acontece na América. Alemanha, Itália, Espanha, França, Dinamarca, etc. etc. São milhões de pessoas iguais ao nosso Xico. Tudo a apertar o cinto e adeus consumo. Por isso, as fábricas de automóveis já estão a ficar com a corda ao pé do pescoço. Não vendem os carrros a ninguém.
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Os chineses não compram, os indianos idem.Fica-se pelo essencial, vai-se reparando o carrito, que agora não há dinheiro para luxos. As roupas novas que as amigas e clientes da mulher do Xico iam comprando, já não são assim tantas e como tal, é menos esse que entra. Tudo mau. Os impostos camarários aumentaram 26% num ano e ninguém faz nada a não ser pagar. A inflação por contas mentirosas é estatísticamente atirada para 2 ou 3%. Tudo mentira, como sabe. Repita esta situação por milhões, em todo o Ocidente e diga-me o que acontece à Economia.Se não sabia, ja ficou a saber. Cai.
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O que acontece aos bancos que paulatinamente iam enriquecendo através do abuso de taxas e sobretaxas? Os "banqueiros" desleixaram as formas tradicionais do seu negócio, aproveitaram a mina de ouro da agiotagem e engendraram esquemas de aldrabar as contas aos próprios acionistas, ficando para si com mordomias nababísticas. Fizeram do crédito fácil e enganoso uma receia fácil e pouco trabalhosa. Com a quebra de rendimentos, nuia gente deixou de pagar o que lhes devia. Riscos do negócio, não? Deixaram de ser criteriosos na escolha dos clientes a quem emprestavam dinheiro, e não se preveniram com redes nem pára-quedas.Agrediram e puseram defeitos a tudo o que era Estado e agora é ao Estado que suplicam a salvação.O Estado vai estender-lhes a mão atrasando a morte certa de um sistema podre e corrupto.Vai ser o dinheiro mais mal empregue de toda a História. Daqui a meses, a coisa repete-se até que a Globalização se dê, não da forma que queriam mas de uma forma violenta.
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Todo esse sistema será "hostilmente comprado" pelos monstros que ajudaram a criar.E quem lhes estendeu a mão, dando-lhes o que não lhes pertencia, sai de cena e quem paga a factura é sempre o mesmo. O Xico!
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A Globalização é uma coisa muito boa.

2 comments:

Rui Fonseca said...

Caro António, boa noite!

Como o seu comentário ao meu anterior post coloca uma série de questões muito pertinentes (até porque partilhadas por muita gente, incluindo a nossa Amiga A.,) pensei que seria mais pertinente transcrevê-lo da caixa de comentários no blog e comentasse eu aqui neste espaço.

O meu comentário dirige-se também
à nossa Amiga A.,
pelos seus comentários colocados no post "Antena Aberta", que, suponho, são coincidentes com os seus.

O que posso dizer acerca dos malefícios da globalização já o disse em reflexões anteriores e, lamento, por isso, ter de repetir-me, tentando ser o mais claro possível.

A globalização e os seus malefícios (e benefícios, se me permitem) não são de hoje, nem do passado recente. Mas, é um facto, que se aceleraram na última década. Em nome de quê? Pois em nome do comércio livre. E este em nome de quê? Do maior crescimento económico e social global. E, por essa via, da melhor convivência entre os povos que habitam o planeta.

Pode andar-se para trás e inverter o processo? Pode, levantando de novo as fronteiras e as barreiras alfandegárias. É possível? É, mas não é desejável. Por razões económicas (as perdas seriam de longe superiores aos ganhos observados em cada espaço reservado) mas sobretudo por razões de segurança mundial. Não podemos ignorar que na Índia e na China vive quase metade da população mundial. Que quer crescer, e tem esse direito.

Barrar-lhes a entrada, erguendo fortalezas à nossa volta, seria criar uma situação pronta a explodir, sem válvulas de segurança. Um mundo compartimentado seria um mundo de compartimentos de ódios.

A globalização é uma consequência inevitável da pequena dimensão do planeta para a dimensão humana. Não poderá ser reduzida sem consequências catastróficas nas relações entre os homens que habitam o planeta.

Mas, e era aqui queria chegar, do meu ponto de vista isto tem pouco a ver com as raízes da crise financeira que germinaram na ganância de alguns que iludiram muitos por interesses próprios.

Poderia acontecer num espaço não globalizado. A globalização, como acontece com qualquer epidemia, facilitou a transmissão do contágio.

Contudo, o contágio, neste caso, não veio do leste mas do ocidente.

Deveríamos ter encerrado as fronteiras económicas e financeiras aos norte-americanos?

Não podíamos. Contra o perigo dos vírus, o remédio não é não sairmos à rua, é tomarmos precauções contra o contágio.

Que lhes parece?

António said...

Boa noite, Amigo Rui e obrigado pela deferência.

Quem foi que até há dez anos esteve fechado?
Agora abriram a loja e nós fomos a correr. Quando abre um centro comercial é a mesma coisa. À entrada monta-se uma baiuca com uma impressora multi-usos para fotocopiar docmentos e emitir um cartão de crédito para assim caçar mais patos que vão gastar o que não têm.
O chamamento oriental, mais os seus milhões de consumidores (presumiram), acertou em cheio nos papalvos acabados de sair de Harvard, Oxford e outros locais onde se aprende teoria para pôr em prática e fugir assim que a tal coisa acerta na ventoinha (Não é A?). Bastava tirar os olhos do Fin Times e ver que tipo de encomendas os amarelos andavam a fazer na Industria Ocidental.
E mais, que equipamentos industriais e fábricas obsoletas andavam comprando e desmantelando para voltar a pôr a funcionar na terra eles. Lixo, para produzir lixo. Lixo muito barato.
À custa disso vão tendo surpresas e coisa admiráveis tais como pessoas empoleiradas em árvores substituindo-se às abelhas. Sabe porquê? Porque a poluição é tal e o uso de lixo tóxico na agricultura, a fazer de pesticida e herbicida, na ânsia de produzir mais e mais, que acabaram com a grande ferramenta de Deus que faz com que haja frutos. Admirável, não e? Pessoas empoleiradas em árvores a polinizar, com um pincel feito de penas de galinha, flor por flor. Patético.
Há dias o sr. dr. Durão da CEE veio dizer que é preciso auxiliar financeiramente, através de donativos, os países com problemas alimentares. Com dinheiro? Para quê, para irem ao macdonald's, ou com dinheiro para os seus corruptos governantes comprarem mais armas e bens de luxo ao Ocidente? Mais balões de oxigénio?
Não acha que é um absurdo e não-sério fazer tal apelo? Dinheiro para África?

Não sei nem tenho a veleidade de querer saber qual a solução para o problema que aí está. Mas sei que todo o auxílio que os governos derem ao Sistema Financeiro, será dinheiro mal gasto que irá, tal como os donativos pedidos pelo dr. Durão, parar aos offshores e a quem lá tem as contas.
Fechar tudo e voltar para casa, pode a solução. Fazer Reset. Voltar ao princípio. Desligar e voltar a ligar ou como fazemos aos nossos computadores quando estes resolvem bloquear ou causar dores de cabeça ao utilizador.
Fazer Restauro do Sistema para data anterior. Mas a todo!

Pior do que tudo isto, acredite, vai ser o desaparecimento das abelhas como animal domesticado e produtivo. Se as não salvarem, dentro de dez anos, não haverá fruta, nada se produzirá. Esse sim, é um problema sério.
Sabia disso?