Wednesday, October 08, 2008

DEMOCRACIA E CAPITALISMO

Durante as últimas décadas, a ideia de que democracia e capitalismo eram interdependentes vingou na generalidade das sociedades mais bem sucedidas social e economicamente: a economia de mercado só se equilibra onde as liberdades individuais estejam garantidas; os plutocratas alimentam-se dos monopólios e estes acabarão por destruir o mercado. Esta a história que se contava em duas linhas e, abruptamente, chegava ao fim.
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Confirma-se agora, quando os estilhaços da crise se propagam a todo mundo, aquilo que muitos haviam denunciado: a economia de mercado estava a ser subvertida e a democracia apresentava fracturas generalizadas. As fragilidades da democracia consentiram o avanço dos sabotadores da transparência dos mercados e a economia de concorrência desequilibrou-se estrondosamente. E os governos tiveram de amparar os que ameaçavam cair e soterrar as economias individuais e a economia global.
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Passaram, subitamente, os tutores do Estado a serem melhores gestores que os gestores privados? Obviamente que não. Os gestores não são melhores nem piores no sector público que no sector privado. São as condições em que os actos de gestão se realizam que permitem aos mesmos gestores melhores ou piores resultados. Mas são também essas condições que, tanto num caso como noutro, podem conduzir a abusos de confiança dos contribuintes, dos clientes ou dos accionistas. A história está repleta de exemplos em que a confiança dos eleitores, no caso da gestão pública , dos trabalhadores, clientes, fornecedores e accionistas no caso da gestão privada, foi traída.
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O que não funcionou para que a traição surpreendesse? A democracia. Porque descurou a vigilância e a sanção dos transgressores.
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Há males que vêm por bem, lê-se no compêndio de filosofia popular. Irão as democracias retirar deste terramoto as lições que lhe permitam saber reforçar a casa dos alicerces ao telhado tornando-a anti-sísmica? Oxalá.

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