A questão mais vezes por mim abordada, aqui nestas palavras cruzadas com que me entretenho a alinhavar ideias, é a Guerra do Petróleo em que o mundo está envolvido sem que muita gente fale nisso. Mesmo nos EUA, mesmo neste período já tão junto do arranque das primárias para as presidenciais de Novembro do próximo ano, a guerra é um dos vectores por onde vai passar o resultado das eleições, só dois candidatos claramente defendem a retirada imediata das tropas (Obama e Ron Paul) mas ninguém assume que a guerra no Iraque não é senão uma batalha da Guerra do Petróleo. Que não pode ser perdida pelos EUA, e a retirada só vai acontecer quando o petróleo deixar de ter o peso decisivo que o hoje tem na sobrevivência da economia, e da sociedade, norte-americana. E só porque a questão dessa sobrevivência se coloca aos norte-americanos, é que os restantes povos, tão ou mais dependentes do que eles do petróleo daquela zona do globo, fazem vista grossa e se mantém na expectativa do desenrolar dos acontecimentos.
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Até agora, nunca tinha lido um reconhecimento explícito por parte de uma individualidade política representativa norte-americana de que a guerra não tem outros propósitos mais relevantes do que a segurança das fontes de abastecimento de crude da zona do globo onde residem 3/5 das reservas conhecidas de petróleo em todo o planeta.
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Lendo "The Age of Turbulence" de Alan Greenspan, deparo-me a páginas 460 e seguintes com afirmações desassombradas:
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"I am saddened that it is politically inconvenient to acknowledge what everyone knows: the Iraq war is largely about oil. (...)
(...) while oil markets are highly competitive in the developed world, the market approach is clearly vulnerable in a world where a single act of terrorism can shut down massive chunks of oil production and cripple the global economy (...)
(...) It should be obvious that as long as the United States is beholden to potencially unfriendly sources of oil and gas, we are vulnerable to economic crises over which we have little control. Petro is so embebed in today´s economic world that an abrupt severance of supply could could disrupt our economy and those of other countries. U.S. national security will eventually require we see petroleum as an energy source of choice, not necessity."
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Greenspan aborda as alternativas ao petróleo, já hoje conhecidas, mas é seguramente a sua proposta de uma taxa de 3 dólares ou mais por galão, que desincentive os consumos crescentes nas autoestradas, tanto de carros como de camiões, e incentive a adopção de medidas tecnológicas já adoptadas noutros países, e nomeadamente na Europa, que reduzam drasticamente os consumos por milha rodada, a mais surpreendente, vinda da parte de um confesso libertário.
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Há algum tempo atrás, comentei aqui uma proposta de L. Friedman no sentido da imposição de uma taxa de 1 dólar por galão. Nessa altura, a proposta parecia-me inconsequente do ponto de vista da redução dos consumos, uma vez que a subida dos preços dos combustíveis nas bombas de abastecimento norte-americanas se aproximaram este ano bastante perto daquele valor. A proposta de Greenspan (3 dólares, pelo menos, por galão), ainda que aplicada gradualmente, colocaria os preços nos EUA ao nível dos europeus e não poderiam deixar de ter os mesmos efeitos: a redução mais acelerada dos consumos.
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E, tendo em conta que um em cada sete barris de petróleo consumidos em todo o mundo é consumido nas autoestradas norte-americanas, se uma decisão fosse tomada naquele sentido daria, seguramente, um contributo enorme para a queda dos preços, a melhoria do ambiente, a redução do móbil da guerra.
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Se outros méritos não tivesse, e tem, o livro de Greenspan vale bem por estas páginas finais da obra.
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E, tendo em conta que um em cada sete barris de petróleo consumidos em todo o mundo é consumido nas autoestradas norte-americanas, se uma decisão fosse tomada naquele sentido daria, seguramente, um contributo enorme para a queda dos preços, a melhoria do ambiente, a redução do móbil da guerra.
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Se outros méritos não tivesse, e tem, o livro de Greenspan vale bem por estas páginas finais da obra.
Assim fosse ouvido e seguido.
1 comment:
Boa tarde, caro Rui:
Ainda há dias aqui comentei que enquanto os Americanos não sentirem bem o preço da gasosa ao atestar os seus potentes e pesados pópós a coisa não anda para trás, ou a caminho da alternativa.
Como vê, até o Greenspan me dá razão. Ele costuma vir aqui?
:-)
Bom Ano!
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