Wednesday, December 05, 2007

O DESCONSERVADO


O tema já é recorrente: O Conservatório Nacional está a precisar de obras urgentes. Hoje, a questão volta a ser tema porque uma lista de já 4000 voluntariosos cidadão circula a pedir a intervenção do Governo. Há coisas que nos são atávicas, as listas de assinaturas a pedir a intervenção superior é uma delas. No Quarta República, Margarida Corrêa de Aguiar indigna-se, e com razão.
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Cara Margarida Corrêa de Aguiar,
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Quem lê este seu "post" dificilmente reprime um desabafo de indignação.

E, no entanto, as situações de incúria são tantas que a banalização já tomou conta da nossa consciência colectiva, se alguma vez existiu. A nossa indignação é, lamentavelmente, ocasional.
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Mas é recomendável também outra leitura.

O Estado é, em Portugal, para uns um empecilho, para outros um inimigo, para quase todos um indispensável guarda-chuva. Sempre que alguma coisa menos boa ocorre, a culpa é do Estado, chamem o Estado, e depressa.É assim também com a cultura. E convém ter sempre em conta, a este propósito, que quando falamos de cultura muitas vezes do que falamos é da falta dela.
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Se os preocupados já 4000 subscritores em vez de se limitarem a assinar, à frente da assinatura colocassem um contributo, talvez as obras pudessem arrancar já no próximo mês de Janeiro. Que lhe parece?Dir-me-á: Mas não é suposto que é para pagar estas e outras coisas que pagamos impostos. É, mas pelos vistos não chega. A menos que se corte em outra parte qualquer. Caímos sempre na mesma, Cara Margarida!
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Este assunto dá pano para costurar todo o dia. Fico-me pelas mangas.

Em Washington, perto da qual me encontro, foi inaugurado no passado mês de Outubro um novo espaço para a Shakespeare Theatre Company, o Sidney Harman Hall, bem próximo do anterior, que se mantém aberto, o Lansburgh Theater. O novo espaço tem o nome do principal mecenas e no hall estão também gravados os nomes dos outros beneméritos, um dos quais "Anonymus".O teatro vive da bilheteira e de contribuições que variam entre $75 e $1500 por ano. Conhece algum espaço cultural em Portugal que tenha sido pago por algum mecenas, salvo Gulbenkian, que era arménio? Eu não conheço.
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Conheço, sim, muitos locais onde estão placas comemorativas de inaugurações, nomeando os políticos que mandaram fazer as obras, algumas bem escusadas, com o nosso dinheiro.
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São Carlos tem um mecenas, o Millennium, que cobre cerca de 16% dos custos. A bilheteira cobre mais 16%. O resto é pago por todos os que pagam impostos, a esmagadora maioria dos quais nunca pôs nem vai poder pôr os pés em São Carlos.O Millennium, por outro lado, tem direito a bilhetes para amigos e conhecidos a preços de bilheteira, isto é a preço equivalente a 16% dos custos. Oferece esses bilhetes também a amigos e conhecidos que não vão lá. Resultado: Ficam lugares vazios e na bilheteira dizem que o espectáculo está esgotado.
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No Sidney Harman Hall, não há borlas.

Em Lisboa não há falta de espaços culturais pagos pelo Estado. Veja o caso do Teatro Aberto. Sou insuspeito porque, no máximo, devo ter falhado 3 ou 4 espectáculos desde o início em que o Grupo se estreou no Tivoli, há bem mais de trinta anos. É uma casa de teatro bonita, duas salas, com todas as funcionalidades requeridas pelo teatro moderno, um bom restaurante, as peças levadas à cena são bem escolhidas. Mas poucos vão lá. A bilheteira não sustenta o teatro, até porque muitos espectadores vão lá com bilhetes oferecidos.Podemos exigir mais do orçamento?.

Ou temos de optar?
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PS(D)- Já agora: A endividadíssima Câmara de Lisboa continua a montar iluminações de Natal a partir de Outubro e levanta-as lá para Março. Claro que as outras, também endividadas, em geral, fazem o mesmo. Ninguém quer ficar para trás, senão perde as eleições. Em Washington, a árvore que está em frente da Casa Branca é uma pelintrice quando se compara com a do Millennium, no Porto. Não há iluminações pagas pelos cofres do Estado. Quem quer luminárias paga-as do seu bolso. Aliás, não conheço cidade europeia ou norte-americana com mais iluminações natalícias que Lisboa. O dinheiro não dá para tudo, é o que é.

E quem poderia dar uma ajuda faz uma petição com milhares de assinaturas.

Ou ignora. Mas vai a São Carlos se não vai alla Scala

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