Thursday, December 13, 2007

PRESO POR TER CÃO

Tavares Moreira analisa no Quarta República as previsões de crescimento económico em Portugal em 2008 e 2009 considerando-as propositadamente optimistas para efeitos de auto-promoção politica.
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(...) partindo dos mesmos pressupostos que parecem caracterizar a conjuntura económica, nomeadamente na Europa no próximo ano, eu faria uma apreciação diferente das previsões do governo português para a evolução da nossa economia em 2008.
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Lamentavelmente, a economia portuguesa tem estado a divergir nos últimos 5 anos da média da União Europeia. Temos perdido passada quando devíamos ter recuperado. A um crescimento relativamente animador do conjunto da União Europeia, e, particularmente, dos países da zona Euro, correspondeu uma divergência preocupante da economia portuguesa.E (quase) todos disseram: Não pode ser! E o PR apelou: Não nos podemos conformar!
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Ora, se houve divergência é porque o efeito de gravidade não se fez sentir. Se tal tivesse acontecido, isto é, se as economias que circulam à volta do euro numa órbita mais próxima, e da União Europeia, obedecessem à lei da gravidade, a economia portuguesa não teria ido dar uma volta errática.O que aconteceu, e isso foi sublinhado por muitas entidades, foi a superação dessa força gravítica por uma outra, de sinal contrário, mais forte: as ineficiências do aparelho produtivo em geral e da administração pública em particular. Aquilo que no jargão político se passou a chamar de "falta de reformas estruturais".
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(...), se a economia portuguesa divergiu pela negativa em consequência "da falta de reformas estruturais", mas se precisa urgentemente de convergir, não pode esperar por uma boleia cíclica para ganhar mais andamento. Do que precisa é que "as necessárias reformas estruturais" sejam, realmente, as necessárias e as necessárias estejam a resultar já em 2008.
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Temos, portanto, salvo melhor opinião, que nos preocupar com as reformas. Porque é delas que pode resultar a retoma da convergência.A conjuntura externa é um dado que não podemos influenciar.
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Depois, se o Governo está demasiado optimista nas suas previsões e falha, o optimismo pode sair-lhe caro em ano próximo das eleições. Deveríamos, sim, criticá-lo se jogasse à defesa para prevenir dissabores.
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Resumindo: Penso que deveremos ser exigentes para com o Governo e isso não passa por criticar-lhe as previsões optimistas. Passa por exigir-lhe previsões que vão de encontro aquilo que deve ser feito: colocar a economia portuguesa nos carris do comboio europeu.
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(...) Se o Governo se limitasse a um crescimento percentual idêntico ao previsto para a média da União Europeia, o que deveríamos dizer?
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Que era insuficientei, que por aí não iríamos lá.
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Aliás, países como a República Checa e a Eslovénia, que já nos ultrapassaram, e outros do conjunto dos novos membros não vão, seguramente, conter-se dentro dos limites do crescimento médio.Por que é que nós nos havemos de conter?
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Se vamos ou não conseguir ( e esse é que é o problema, o governo, este ou outro qualquer não resolve tudo) já é tema para outra apreciação.
Se o Governo vai arranjar depois desculpas de mau pagador, também é outra questão. O que poderemos abordar, então, não é apenas a capacidade subtil do Governo para arranjar desculpas mas a amnésia ou distracção da Oposição em não as denunciar cabalmente.

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