Desde logo os professores e os sindicatos.
Durante décadas os professores barricaram-se atrás dos sindicatos reivindicando tudo e mais alguma coisa, sem distinção de méritos e resultados. Do outro lado, o ministro, este, o anterior, o anterior do anterior, todos, isolados no topo de uma estrutura que não tem, efectivamente, responsáveis intermédios, cederam o que deviam e não deviam enquanto houve crédito importado sem rei nem roque. Esticaram a corda até ao ponto de ruptura. Aí chegados persistem em recusar avaliações e reconhecer a mais elementar das distribuições estatísticas: há professores excepcionais, há professores muito bons, há professores bons, há professores sofríveis, há maus professores, há indivíduos tidos por professores que são indignos da função de que os incumbiram. Como em todos os grandes universos estatísticos, a distribuição de competências, capacidades, vocações, dedicações, etc., é normal, e um universo que se mede em centenas de milhares não é excepção. Mas os professores, e em nome deles os sindicatos, continuam a recusar-se a reconhecer esta evidência estatística elementar, a benefício de uma imperdurável coesão de classe, contribuindo efectivamente para a degradação da escola pública.
Ontem foram publicados os ranking das escolas secundárias e, mais uma vez, o ensino privado ocupa a generalidade dos lugares cimeiros. E a justificação invocada, só parcialmente pertinente, é sempre a mesma: as escolas privadas podem escolher os melhores alunos, o ensino privado é quase exclusivamente frequentado pelos filhos das classes mais abonadas, permitindo-lhes condições e ambientes mais favoráveis ao sucesso. A ninguém ouvi referir que as escolas privadas, ao contrário do que sucede nas escolas públicas, podem escolher os alunos mas também podem escolher os professores. A escola pública não pode recusar alunos e os professores da escola pública recusam-se a provas de selecção e avaliação, e recusam-se ainda a progressão na carreira consoante avaliação séria do mérito exigindo a progressão por antiguidade.
São também culpados os pais porque, replicando os padrões médios de comportamento, o seu grau de exigência é geralmente baixo, o seu alheamento é elevado, as excepções são muitas vezes perversas, descambando em agressões físicas aos professores sem que a polícia seja convocada a intervir.
Mas o governo, este governo, o anterior governo, o outro, quase todos, se não todos, são culpados pela desqualificação da escola pública. Pelas mais diversas razões, e também por estas, objecto de uma suficientemente esclarecedora reportagem da TVi24.
O governo quer acabar com a escola pública, como clama o senhor Mário Nogueira? Tanto quanto o senhor Mário Nogueira. Nenhum quer. Mas tanto de um lado como do outro não deixam de contribuir para isso.
3 comments:
Avaliação permanente a todos os niveis e transparencia os dois pilares duma boa saude publica.
Quando no ranking antes de abril de 1974 o primeiro colegio privado aparecia em 18º depois nos trintas havia outro e a partir do 50ºjá apareciam mais. Sem demagogia basta comparar com ranking actual e ouvir os responsaveis da educação e as lutas heroicas travdas para perceber que a avaliação e a transparencia t~em feito moça na qualidade da nossa vida publica. Sem explicações pseudocientificas eu que era aluno de 12 nunca dispensei sempre das orais.; os meus amigos dos colegios com notas de 16 ou 18 tinham dificuladade em passar nos exames que só eram feitos nos liceus. Só que havia avaliação dos alunos e principalmente dos professores; só lá ficavam os que o reitor entendia que mereciam; e ele punha a cabeça no cepo pelo "seu "liceu = com provas dadas sem pseudoexplicações.
Pois era como diz, António Cristóvão. Mas, entretanto, mudou muita coisa no ensino público.
Já agora: Por que é que no ensino secundário os privados estão, quanto a resultados qualitativos, à frente do ensino público e no ensino superior (com excepção da Católica) a situação é inversa?
«...no ensino secundário os privados estão, quanto a resultados qualitativos, à frente do ensino público»
No ensino secundário privado as escolas podem selecionar os alunos, desde logo numa base económica de origem ou através de provas de admissão. Não me consta que na Musgueira haja 'colégios' de 'S.qualquer coisa'. A luta pelo direito ao ensino privado (pago com os nossos impostos) tem uma longa tradição na ideologia católica, que deve estar muito satisfeita com a orientação deste governo na matéria...(nem Salazar lhes fez a vontade...)
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