Friday, February 15, 2013

UM INVESTIMENTO ARRISCADO

Não foi essa a qualificação dada hoje pelo ministro das Finanças durante a audiência na Comissão de Economia e Finanças. Vítor Gaspar admitiu que o apoio financeiro do Estado aos bancos tem riscos mas acredita que os interesses dos contribuintes estão salvaguardados.
 
Ouve-se, e a memória recorda-nos as palavras de Teixeira dos Santos quando recusou a recapitalização do BPN (na altura, a designação foi outra mas o efeito pretendido seria o mesmo) proposta por Miguel Cadilhe, de 600 milhões de euros, considerando que a proposta seria muito onerosa para os contribuintes. Pouco tempo depois, nacionalizou o buraco  com as consequências que hoje se conhecem, ainda que muitas delas devam ser assacadas, além do mais, também à incompetência dos administradores destacados para o BPN. Em meados de 2009, Teixeira dos Santos, afirmava que "até agora o Estado não suportou um euro sequer " com o BPN, numa altura em que a CGD já tinha cedido ao buraco 2,5 mil milhões de euros, com aval do Estado, obviamente.
 
Agora, em dois outros casos (BCP e Banif), onde o Estado foi colocado como silent partner detendo, no caso do BCP, a grande maioria do capital próprio, e a quase totalidade no Banif, as condições envolventes externas e a cadência que se vem observando na progressão dos créditos incobráveis, não permitem conjecturar o cumprimento dos rembolsos estabelecidos nos planos de reestruturação.
 
Se isso acontecer, e a intervenção feita em nome do Estado, vier a redundar na nacionalização destes bancos, o ministro das Finanças poderá sempre vir a argumentar que a recapitalização se fez em cumprimento do contrato de ajuda externa. O que, servindo-lhe de alibi, não retirará as incalculáveis consequências de cima dos contribuintes portugueses. 
 
Para que isso não aconteça deveria o ministro das Finanças colocar na agenda de renegociação do contrato de ajuda externa a retirada do Estado português de operações financeiras onde foi colocado como intermediário sem razão plausível, porque não lhe compete nem a gestão nem a fiscalização dos bancos recapitalizados com fundos emprestados pela troica, onde o BCE tem, ou deve ter, neste caso, papel preponderante.

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