Chegaram quase de repente como uma praga. De norte a sul, instalaram-se densamente em todos os aglomerados urbanos de média e grande dimensão do país. São as casas de penhores, agora redenominadas lojas de compra de ouro. No tempo do outro senhor, os usurários das casas de prego escondiam-se em recantos discretos onde os procurava a miséria envergonhada.
Esta vaga recente não só não se esconde como se multiplica da forma mais escancarada possível e promove o negócio até em out doors. Pelo menos um deles, oferece até 55 euros por cada grama de ouro, um valor que não pode deixar de levantar suspeitas a quem não entre em detalhes e compare a oferta com o valor oficial nos mercados internacionais, consideravelmente mais baixo.
Dir-se-á que este é mais um indicador de que os portugueses andaram a viver acima das suas possiblidades, comprando ouro com dinheiro que não tinham, e agora, por força da crise, são obrigados a devolvê-lo à procedência. Haverá, certamente, casos desses. Mas também haverá muitos casos de gente obrigada a desfazer-se de valores estimativos antigos que os olhos do usurário não verão nunca quando lhe entram os desesperados pela porta dentro.
É a vida, diria o outro. Pois é, é a vida de um país no prego.
1 comment:
Sempre ouvi os mais velhos dizerem que compravam ouro porque nunca se sabia o dia de amanhã! Pois esse amanhã é hoje para muitos...Só é de lamentar, que as sociedades consigam organizar-se tão desorganizadamente que as famílias que vivem "apenas" da força do seu trabalho, tenham de passar fome e ficar sem tecto, sem que as forças vivas dessas sociedades se mobilizem para impedir essa indignidade!
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