Monday, February 11, 2013

ELEIÇÃO PAPAL - UMA QUESTÃO DE CIÊNCIA POLÍTICA


Bento XVI resigna a partir do fim deste mês, e na Páscoa já terá sido anunciado  do balcão da  Basílica de São Pedro "Habemos Papam". É a notícia do dia que, para além de realçar a excepcionalidade da decisão do Cardeal Ratzinger, desde 1415 todos os sumo pontífices deixaram este mundo no seu posto, desencadeou a especulação do costume acerca do nome do cardeal que será papa nas festas da Semana Santa, que este ano decorrem entre 24 (Domingo de Ramos) até 31 (Dia de Páscoa) de Março. Até lá, o papado de Ratzinger será aplaudido por uns, criticado por outros, mas o filão das notícias passará pelo escrutínio mediático dos mais prováveis papabiles. 
 
Colocar-se-á o Cardeal resignado à margem dos movimentos de influências que acontecem na eleição de um novo papa como em outras eleições quaisquer? Apesar das razões invocadas, Bento XVI não deixará, certamente, de influenciar a decisão do conclave. Neste paper  publicado em Abril de 2006 por três professores de ciência política da Universidade de George Washington, e citado aqui são deduzidas algumas conclusões curiosas, a partir de dados públicos e de outros conhecidos a partir de fontes fidedignas. Segundo aquele estudo, é provável que  Ratzinger terá sido eleito papa em em conformidade com as intenções de João Paulo II.
 
Até 1996 a eleição requeria uma maioria qualificada de dois terços dos votantes do conclave. João Paulo II, ou alguém por ele, terá observado que a continuidade dessa tradição para um colégio que tinha sido amplamente renovado e diversificado, e apesar de em meados de 90, cerca de dois terços dos cardeais tinham sido nomeados por João Paulo II, poderia conduzir a uma situação insustentável de bloqueamento da eleição. E a maioria qualificada de dois terços foi revogada.
 
Em 1994, João Paulo II tinha criado a Academia Pontifícia de Ciência Social com o objectivo de prestar à igreja assessoria de politicólogos, sociólogos e economistas de grande mérito. Kenneth Arrow, que foi Nobel da Economia, conhecido sobretudo pelos seus trabalhos relacionados com "paradoxos em votações" (voting paradoxes), foi um dos convidados iniciais. A decisão papal de abolir o requisito da maioria qualificada poderá estar no contributo de Arrow.   
 
Em 1997, Bento XVI, certamente movido pelo instinto conservador do Cardeal Ratzinger, determinou o regresso ao requisito da maioria qualificada de dois terços. Se ele mesmo não assegurar até lá essa maioria, o conclave poderá entrar num impasse com a Páscoa à porta.

A dúvida parece, portanto, ser esta: Quem é o favorito de Ratzinger? Ao tomar uma decisão sem precedentes há quase seis séculos, Ratzinger tem a faculdade de influenciar em vida a eleição do seu sucessor e não deixará, seguramente, de o fazer. Tanto mais que, por escolha dele, o tempo urge, poderia ter decidido anunciar a renúncia após a Páscoa, e, também por sua decisão, pelo menos dois terços têm de se colocar do mesmo lado. Tanta coincidência só pode ser intencional. Intencionalmente, divina, segundo Ratzinger.
 

1 comment:

Francisco Carvalho said...

«Intencionalmente, divina, segundo Ratzinger»...dizes bem, Rui...afinal não é o 'espírito santo' o único eleitor?!
(nota: é óbvio que me refiro ao 'espírito santo de orelha'!