Tal designação foi-me sugerida pelas notícias acerca do "Discurso da União" que o Presidente Obama dirigiu ontem aos congressistas, a todos os norte-americanos e, porque não reconhecê-lo, dada a resiliente liderança norte-americana, também ao mundo. Não menos que "Urbi et Orbi", sem intenção de heresia.
Os EUA tinham perdido, sobretudo durante os mandantos de Bush II, o respeito do mundo, atolando-se quase isolados em algumas guerras intermináveis e numa teia de aranha financeira gigante que quase sufocou o sistema financeiro global. Obama, o mais improvável de todos os presidentes norte-americanos, foi eleito quando o país quase desabava. Depois de um primeiro mandato, de que não resultou o melhor dos mundos do dr. Pangloss, os EUA, no entanto, recuperaram o respeito perdido internacionalmente, o sistema financeiro, se não melhorou a olhos vistos encontra-se estabilizado, a economia recuperou, o desemprego, ainda alto para os hábitos locais, mantem-se a níveis bem mais baixos que os observados na Europa, o emprego voltou a crescer. O contraste com o que, entretanto, se passou na União Europeia não poderia ser maior.
A diferença está em Obama e na sua equipa? Em parte, sim. Mas a grande diferença reside no facto de Obama representar e responder perante todos os norte-americanos enquanto a Chanceller Merkel, o Presidente Hollande, o par do directório que de facto governa a UE, representam e respondem apenas perante os eleitores alemães e franceses, respectivamente. A política da Chanceler Merkel, ou de qualquer outro chanceler alemão, será sempre fixada em função dos votos alemães.
Voltando ao "Discurso da União", que aqui se considera incluir propostas políticamente possíveis, umas, mas implausíveis, outras, Obama presidente reeleito mostrou-se mais decidido e ambicioso do que Obama candidato à reeleição. Normalmente, sucede o contrário. Obama, ao avançar para um conjunto de objectivos, alguns deles fracturantes, implausíveis, pretende, segundo a leitura de Ezra Klein, marcar a agenda política e encostar os republicamos à parede. Na Europa, as regras do jogo são outras, completamente diferentes, a política europeia está enredada em contradições sem desenleio à vista.
Há, no entanto, neste discurso de Obama um ponto, que mais do que qualquer outro, confronta as disparidades e as incongruências da União Europeia na encruzilhada em que se encontra e do qual parece não saber sair. Obama anunciou, e desde logo é estranho que nenhum sinal tenha sido dado da parte da UE a seu propósito, que os EUA e a UE vão entrar em negociações tendo em vista a construção de um espaço económico alargado que incluirá 800 milhões de pessoas.
Ouve-se, abisma-se e interroga-se: onde é que ele, ou eles, querem chegar? E, mais do que, aonde, como? Com uma moeda única, o dólareuro? Sem moeda única, e fé em Deus? Pode um espaço económico comum funcionar guerreando-se as moedas de parte a parte? Escapa-me completamente a
plausibilidade desta intenção de Obama e de mais não sabemos quem.
---
* Designação que, de tão obtusa, também por essa razão, nunca seria usada
No comments:
Post a Comment