Tuesday, February 19, 2013

PARA A VIDA SER BEM VIVIDA


Noticia aqui a Reuters, que a Nestlé está a retirar dos mercados italiano e espanhol produtos comercializados sob a marca Butoni com incorporação de carne de cavalo. Em Portugal, e comercializada através do canal Horeka foi detectada a presença de lasanhas vendidas em exclusivo para hotelaria e restauração. Nas lojas Aldi e Lidl, de cadeias de supermercados alemãs com forte implantação em Portugal, foram também encontrados à venda produtos contendo carne de cavalo. Parece improvável, dada a óbvia pesença de produtos de origem alemã nestas lojas, que em Portugal a distribuição dos mesmos  produtos comercializados na Alemanha por aquelas cadeias de supermercados não esteja também a ser feita em Portugal, para além da realizada através do referido canal Horeka.
 
Segundo os entendidos na matéria, a ingestão de carne de cavalo não apresenta riscos para a saúde pública. A Nestlé responsabiliza a multinacional JBS, a maior processadora de carne no Brasil, pela contrafacção que está na origem do escândalo que a envolve, e atinge muitas outras empresas europeias.
 
A propósito de todo esta súbita inflamação numa Europa infectada por muitas outras causas, que não serão tão facilmente resolúveis quanto esta da carne de cavalo, se alguma vez o forem, recordo-me de um restaurante que há várias décadas atrás, na Rua das Portas de Santo Antão, em Lisboa, tinha como prato de ataque à concorrência circundante o bitoque com ovo a cavalo, propriamente dito. Custava, se bem me recordo, dez ou quinze tostões, uma forma vulgar de dizer simplificadamente um escudo ou escudo e cinquenta centavos. Mas ninguém era enganado.

- É de carne de cavalo?, perguntavam alguns cépticos.
- Se é a cavalo como é que queria que fosse? respondia o patrão. Também há com ovo a vaca mas custa dois e meio.
 
Não experimentei o petisco muitas vezes, mas recordo-me ainda que, por detrás do balcão onde se sentavam os comensais, havia um azulejo bem proporcionado com a quadra seguinte:
 
Só pode ter boa vida
quem da vida bem percebe.
Para a vida ser bem vivida
é que vive o Comibebe.  
 
Há tempos passei por lá, e movido pela curiosaudade, entrei para ver o que restava do Comibebe da minha juventude, vizinho do prestigiado e oneroso Gambrinus. Não sobra nada. Um qualquer decorador sem alma na memória aviltou o monumento substituindo-o por um ambiente insosso. O actual proprietário, tomou o estabelecimento de trespasse há três anos. Não tinha a mínima ideia de que, em tempos idos, havia um balcão e, por detrás do balcão, uma quadra inspirada. Escrevi-lha num guardapo de papel que estava à mão. Se cumprir como prometeu, pelo menos a quadra voltará ao Comibebe.

2 comments:

aix said...

Bons tempos os do Comibebe!!!0 reclame (nos jornais) era 'meio-bife comibebe quinze tostões'...parabéns por reconstituires o versinho da parede...eu já não me lembrava dele pese as muitas vezes que o meu (quase) mísero 'ordenado' de professor primário me 'obrigava'a atacar o 1/2 bifinho.Abç

rui fonseca said...

Viva Francisco!

Bons tempos? Claro, bons tempos, porque eram tempos da juventude.

Abç